4/22/2019 12:00:00 AM

Crítica: Entardecer

Entardecer
Imagem: Califórnia Filmes / DIVULGAÇÃO
“O homem nasce bom, a sociedade o corrompe”, disse Jean-Jacques Rousseau, filosofo francês. Dentro de um ponto de vista familiar, a história que Laszlo Nemes conta em “Entardecer”, seu segundo longa, é um retrato social sobre corrupção e a luta contra ela.

Também escrito pelo diretor, a obra, que se passa em 1913, acompanha a jornada de Irísz Leiter (Juli Jakab) que está em busca de um emprego na chapelaria que já foi de sua família e que, anos depois de seus pais morrerem, ainda continua levando o nome deles. Após descobrir que tem um irmão, ela passa a procurá-lo e assim entra em um mundo de luta que não esperava.

Nemes usa a câmera para criar tensão, ao mesmo tempo em que vamos descobrindo mais sobre a história na medida que a protagonista avança na sua trajetória, criando uma certa aura de suspense durante o primeiro e segundo atos do filme.

A câmera é parecida com a de “Filho de Saul”, primeiro filme do diretor, na qual ela constantemente ficava atrás do personagem, como se nós fossemos uma pessoa que o seguisse a todo tempo, em “Entardecer”, a diferença é que o plano abre com frequência e a câmera se move um pouco mais.

Graças a isso é possível algumas das cenas longas do filme, onde a câmera realiza diversos movimentos para destacar os chapéus da loja onde Irisz trabalha, os belos figurinos das pessoas ao redor e principalmente, que vejamos o que ela vê com mais detalhes. Nesse ponto, a profundidade de campo é importante, enquanto ela não vê algo, esse algo fica embaçado, desfocado e só quando ela enxerga, é que conseguimos definir o que é.

O que demonstra como a vida dela sempre foi assim, mais a ideia de algo, uma silhueta, do que um alguém que de fato estivesse ali. Isso torna a luz do filme, usada em um tom meio amarelado, como se uma fotografia estivesse desbotando, um tanto quanto simbólica.

Pois mostra duas coisas: a vida social dela é como se fosse uma foto se deteriorando e a vida de todos nós está desbotando a partir do momento em que nascemos. Por isso, a ideia é tão importante para que ela possa, assim como aqueles que lutam ou lutaram contra a corrupção junto de seu irmão, ter algo em que se apoiar para viver.

Logo, a ideia que esse alguém representa é mais importante do que esse alguém e Irisz se apega a isso para tomar as rédeas de sua vida e lutar para melhora-la, seja contra o patrão abusivo ou para impedir que suas companheiras de trabalho sejam prejudicadas, o que vemos refletido também na fotografia, nos quadros mais escuros e cinzentos que o filme passa a usar a partir da metade do segundo ato.

Por ter mais de duas horas de duração, o roteiro não tem nenhuma pressa de desenvolver seus personagens, mas, apesar de isso ser bom e efetivo, tanto na história quanto na montagem, o filme perde um pouco de seu ritmo entre o segundo e terceiro ato, mesmo que ali estejam suas melhores sequencias.

No caso, essas são as cenas violentas, que lembram bastante as de “O Filho de Saul”, com a diferença da não participação de sua protagonista. Ela apenas assiste e acompanha as lutas, nunca (ou quase nunca) influenciando ou fazendo algo que as mude.

Nessas cenas, em alguns momentos, o plano abre e a câmera muda da posição habitual atrás da protagonista para uma posição comum, pois precisamos ver como Irisz reage ou não a violência, já que a ideia de luta passada pelo filme envolve a luta física, sem esquecer que a protagonista sempre se sente pressionada a tomar alguma atitude, por isso, o plano abrir um pouco permite que vejamos se ela fará ou não algo.

Assim, “Entardecer” é um filme visualmente lindíssimo e se não fosse sua duração, seria um filme que deixaria o público mais curioso, assim como “O Filho de Saul” fez. Porém, isso não prejudica em nada mais um belo trabalho de Laszlo Nemes, um diretor de muito talento.

Veja o trailer do filme, distribuído pela Califórnia Filmes:

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