4/25/2019 12:00:00 AM

Crítica: Verão

Verão
Imagem: Imovision / DIVULGAÇÃO

Toda época passada, ao menos no passado recente, de um ponto de vista cultural, é melhor do que a época em que vivemos. Nossos motivos para sentir isso podem ter origem em vários aspectos de nossas vidas, gostos dos nossos pais, que nos transmitiram as suas preferencias quando éramos crianças, descobertas que fazemos durante nossas vidas e muitas outras coisas que eu poderia ficar listando aqui por muito tempo.

Assim, talvez a intenção de Kirill Serebrennikov ao contar a história de Viktor Tsoi e do inicio de sua carreira musical, não seja apenas a de relembrar a trajetória de um artista, mas a de criar um sentimento de nostalgia no espectador, que ao assistir “Verão”, tem saudade de uma época que não viveu, devido as músicas e estilos daquele período, que nunca morreram.



Brevemente apresentada no paragrafo acima, “Verão” conta a história de Viktor, um jovem músico que tem como seu mentor um cantor de sucesso chamado Mike. Ao apresentar seu trabalho para seu ídolo, Viktor conhece Natasha, mulher do cantor, por quem se apaixona logo de cara.

Mas, nada disso ocorre como nos filmes que tem música e biografia como temática que estamos acostumados a ver, pois ao contar uma história que se passa nos anos 80 na União Soviética, Serebrennikov opta por usar um pouco do estilo dos filmes daquele momento histórico, no qual ocorria cerceamento da liberdade de expressão e limitações dos mais diversos tipos para o povo.

Verão
Imagem: Imovision / DIVULGAÇÃO


Ou seja, os concertos não são shows animados, com pessoas bêbadas e sob o efeito de drogas, eles são como eram na época, onde o público mal se mexia e era proibido de dançar, mostrar cartazes e se vestiam de maneira formal. Os músicos bebem e fumam, mas não usam drogas consideradas ilícitas e nem fazem sexo.

Isso não significa que eles não tenham vontade de fazer essas coisas, o que Serebrennikov deixa bem claro nas cenas onde são cantadas músicas em inglês. Esses são momentos geniais do filme, pois o diretor usa não apenas os protagonistas, mas também os figurantes para interpretarem as músicas, sendo que as canções são de bandas e artistas que influenciam diretamente os interpretes do filme, mesmo que isso não fique claro por eles, e sim por uma personificação da vontade deles de subversão, literalmente, já que é um rapaz da mesma faixa de idade que aparece quando esses momentos acontecem.

Mas, se essa espécie de espirito libertário aparece nessas cenas musicais criativas que Serebrennikov faz no seu filme, ele não é necessário nas cenas sensíveis de amor de Viktor e Natasha, que, como dito, nem chegam a fazer sexo no filme ou nada demais que choque o público, mas, a sensibilidade dos diálogos e das cenas é tão grande, que nos comovemos, não apenas pelo sentimento, mas pela saudade de sentir algo assim ou pela vontade de amar pela primeira vez.

O que fica bem claro pelas atuações, principalmente pela de Irina Starshenbaum, capaz de expor sentimentos que se contradizem assim como aqueles sentidos por uma pessoa quando ama alguém. Ela precisa ser responsável e criar o filho, ao mesmo tempo em que é jovem e quer mergulhar de cabeça em um amor que parecia impossível, porém, ela ainda gosta do marido e tem medo de machuca-lo caso o abandone.

Esse sentimento de abandono, de possível separação não impede Mike, interpretado por Roman Bilyk de ajudar Viktor (Teo Yoo) com sua carreira, apresentando-o aos censores que na época decidiam se os shows aconteciam ou não, de ajudar o jovem a escrever músicas melhores e a compor arranjos que se encaixassem mais com as letras. Novamente, a relação desses dois personagens são o oposto do que aconteceria em um filme norte-americano ou britânico.

“Verão” é acima de tudo, uma história de amor, música e luta pela liberdade de expressão em um momento de autodescoberta, pelo qual todo jovem na faixa de idade dos personagens passa em algum momento, é aí que mora a nostalgia que Kirill Serebrennikov insere em cada quadro, em cada música e em cada dialogo desse filme rico.

No fim da obra, o diretor dedica o filme para aqueles que amamos. Acredito que seja porque nos lembramos de coisas que amamos, apresentadas a nós por pessoas que amamos e que cederam a sua liberdade, para que nós, enquanto jovens, a desfrutemos da maneira que quisermos e para, mesmo no inverno de nossas vidas, possamos viver o nosso próprio verão.

Veja o trailer do filme:

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