6/24/2019 12:00:00 AM

Crítica: Espirito Jovem

Espirito Jovem
Imagem: Diamond Films / DIVULGAÇÃO
Apesar de já poder ser considerado um subgênero batido, os filmes que contam as histórias de artistas musicais, sejam eles reais ou não, tem um público fiel. Porém, se essas obras seguem uma fórmula, de mostrar ascensão, queda e geralmente uma nova ascensão do cantor/a, “Espírito Jovem” foge disso, criando uma história moderna.

Dirigido por Max Minghella (o Nick da série “The Handmaid’s Tale”), “Espirito Jovem” conta a história de Violet (Elle Fanning, ótima), uma jovem de 17 anos que sonha em se tornar cantora e vê essa oportunidade no programa Teen Spirit, uma espécie de The X Factor, que rende ao vencedor um contrato com uma gravadora. Assim, ela decide fazer os testes e participar do programa.

Sem dúvida, o mais interessante do filme é como a montagem e a trilha sonora musical (toda de músicas pop, assim como as que a protagonista canta) estão aliadas, de forma a criar ritmo e fazer o filme ser dinâmico, ao mesmo tempo em que estabelece outros arcos que formam o arco principal.

Como o de Vlad (Zlatko Buric), que é o empresário de Violet e um cantor de opera famoso na Croácia, que a ajuda a acompanhando legalmente aos testes (mesmo que não seja um parente) e que quer voltar a se relacionar com a filha. Ou da mãe de Violet, Maria (Agniezska Grochowska) que a cria sozinha e está preocupada com o futuro da filha na música.

Mesmo que ela, o tempo todo, acredite no potencial de Violet, o que nos leva aos travellings para frente e para trás que Minghella usa, de forma a nos aproximar das personagens na medida que, em parte, nos afastamos delas como maneira de identificação: devemos ter empatia pela vida e carreira de Violet, não devemos considerar que o fato de ela ser criada apenas pela mãe é um requisito para que a moça tenha sucesso.

Talvez, devido a essa aproximação junto a um distanciamento necessário e interessante, é que o filme seja escuro, assim como os figurinos dos personagens (primários ou secundários). Assim, percebemos que a vida e a rotina são bem cansativas e não só a de Violet, as nossas também.

Isso nos leva as cenas das apresentações, que, por incrível que pareça, também são escuras, como se aquelas apresentações em específico (com exceção da última), não fossem o sonho de Violet. O que faz sentido, já que ela é uma pessoa ambiciosa e que mais do que gostar de cantar e dançar e ser boa nisso, ela sobrevive a partir disso, como a bela cena do teste apenas para os jurados mostra, ela usa o bom e o ruim de sua vida como força para cantar, ela usa o coração.

Um coração que é solitário, triste, como os enquadramentos ótimos no qual ela está no centro do quadro, tanto nas cenas em que ela está de fato sozinha, quanto nas cenas em que ela está acompanhada, pois, mesmo quando não está sozinha, é assim que ela se sente.

Portanto, a cena da apresentação final é bem simbólica, pois é o primeiro momento em que o travelling para trás (em um plano sequência muito bom no qual ela caminha em direção ao palco vindo dos bastidores) não é usado para mostrar solidão e sim para expor a ascensão dela.

Sabemos quem vai ser o vencedor do programa nesse plano sequência, pois vemos uma espécie de retrospectiva da trajetória de Violet, ao mesmo tempo em que ela passa pelos seus concorrentes, por isso, ela usar uma roupa vermelha, é significativo, já que vermelho representa a fome, justamente o que ela sente naquele momento, fome de uma vitória e de uma carreira produtiva.

E, com isso em mente, o show final ser todo colorido, alternando entre vermelho, da fome já dita, o roxo, que tem como um dos seus significados o mistério, que aqui é o mistério do que está por vir no futuro e o verde, que significa calma, como se fosse para Violet encarar com calma e com fome ao mesmo tempo em que soluciona um mistério, é uma sacada bacana de Minghella e da direção de fotografia.

Assim, “Espírito Jovem” é um filme moderno, que usa uma forma de diferente de contar uma história, quebra uma fórmula pré-estabelecida e fala muito mais sobre solidão, ter ou não ter talento e vontade, do que muitos filmes que se propõem a isso.

Sem dúvida, uma grata surpresa.

Veja o trailer aqui, filme distribuído pela Diamond Films:

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