7/01/2019 12:00:00 AM

Crítica: Boas Intenções

Boas Intenções
Imagem: Pandora Filmes / DIVULGAÇÃO
Em dado momento de "Boas intenções", dirigido e co-escrito por Gilles Legrand, um personagem fala "você é burguesa e pode ajudar pessoas, eu sou pobre e faço negócios".

Acredito que essa fala pode resumir a primeira meia hora do filme, já que a ideia desse pequeno período de tempo é mostrar como Isabelle (Agnes Jaoui) se importa mais com os imigrantes e refugiados do que com sua família não por querer ajudar e sim por desprezo.

Porém, o filme foca mais no desprezo da professora alfabetizante de francês, não só pelos refugiados e imigrantes, mas pelas pessoas em geral, no que nesse problema de relacionamento que envolve a família. Assim, da segunda meia hora (do segundo ato em diante) para frente, a obra mostra a que veio.

Através de um roteiro que reforça estereótipos e trata os povos considerados minorias pelos europeus e norte americanos com desrespeito e prepotência, usando uma personagem que poderia ser justamente o contrário disso.

Porque é muito fácil se importar socialmente e apenas reforçar que você acha que todo brasileiro só pensa em futebol e gosta de samba, como justamente o filme faz, já que um dos alunos de Isabelle é brasileiro e ele - literalmente, como o filme faz questão de mostrar - só pensa em samba e praia.

Ou, quando mostra que o personagem da Moldávia é criminoso e a mulher da Bulgária é burra, como se as pessoas do leste europeu fossem todas assim. Isso também vale para os negros, já que o imigrado da Guiné têm sua família desmontada devido a prisões, como se todo negro fosse bandido e para a personagem de ascendência asiática, que é prostituta e o filme, após isso ser revelado, faz inúmeras piadas a respeito disso.

Com esse grupo de personagens, o roteiro reforça estereótipos através da comédia, já que a todo tempo os diálogos do filme tentam arrancar alguma risada do público.

Agora, vemos que aquilo que era subtexto se tornou trama e esse filme legitima isso através desse discurso preconceituoso que tenta se passar por engraçado, por uma montagem que usa cortes para usar o zoom in para criar humor e não para gerar ritmo.

Inclusive, a fala com a qual comecei o texto cai por terra quando o próprio personagem passa a perpetuar, junto com a protagonista, os preconceitos que o filme usa.

É uma pena que, ao ver o trabalho de Legrand, eu pensei na frase "de boas intenções, o inferno tá cheio". Talvez o filme seja um resumo dessa frase.

Veja o trailer aqui, filme distribuído pela Pandora Filmes:

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