7/15/2019 01:06:00 PM

Crítica: Jornada da Vida

Jornada da Vida
Imagem: California Filmes / iMDB / DIVULGAÇÃO
Em dado momento de “Jornada de Vida”, Glória, interpretada por Fatoumata Diawara, chama o personagem Seydou Tall (Omar Sy), de “prestígio”, já que ele é um homem negro, mas que, devido as circunstâncias de sua vida, se embranqueceu. Seu companheiro de viagem, Yao (Lionel Louis Basse) concorda com a personagem.

Essa fala demonstra a maior característica do filme, a honestidade. Se tem algo que o filme dirigido, coescrito (em conjunto com Agnes de Sacy) e coproduzido por Phillipe Godeau é, é honesto, já que retrata um retorno as origens, no caso, as de Seydou, que nasceu na França, mas que seus pais e avô imigraram do Senegal para lá. Ele volta ao país devido ao lançamento de seu novo livro e Yao, um fã que mora no interior do Senegal, vai até a capital para conseguir um autografo.

Ao se comover pela história do garoto, Seydou decide deixá-lo em casa e conhecer o local de onde veio. Ao fazer isso, é bacana que Godeau promove uma conciliação, não entre os personagens do filme, mas sim entre Seydou e ele mesmo, já que o retorno ao local de onde ele veio é de certa forma uma maneira de se conhecer melhor.

É claro que isso acontece devido a relação dele com Yao, pois Seydou se lembra dele mesmo ao ver o menino, porém, ele se conhecer e se conciliar com os seus “eus” é o mais importante para o roteiro do filme, que trabalha esse tema de forma orgânica e usando, principalmente, os diálogos, não apenas entre ele e Yao, mas com os outros personagens também.

O que gera pontes interessantes entre temas, o embranquecimento de Seydou para ter sucesso seria devido a ele nunca ter ido visitar o local onde seus pais nasceram, o que, por consequência, pode ter gerado o divorcio que ele está envolvido, pois ele nunca teve o exemplo de um casamento considerado bem sucedido?

Ou, indo além, a conciliação que o diretor e roteirista propõe seria mais do que uma jornada de autoconhecimento de um personagem, mas sim uma espécie de “tratado de paz” entre Europa e África? Já que a França colonizou diversos países do continente africano inclusive o Senegal?

Esse tipo de questionamento torna o roteiro rico, principalmente por iniciá-los através de uma montagem paralela, onde acompanhamos as trajetórias individuais de Seydou e Yao, até o ponto em que eles se conhecem. Ainda assim, o roteiro usa o tradicional clichê da desistência da continuidade da viagem, quando Seydou decide (em duas ocasiões) deixar o menino voltar sozinho para casa. Isso quebra o ritmo do filme, por mais que ele se recupere muito bem depois desses momentos.

A recuperação se deve muito devido a Omar Sy e a Lionel Louis Basse, que tem uma dinâmica ótima entre si e trabalham muito bem seus personagens, desenvolvendo-os sem pressa e nunca se esquecendo a situação na qual estão inseridos.

“Jornada da Vida” é um filme sobre conciliação, autoconhecimento e crescimento, mesmo depois de adulto, ainda é possível crescer, mesmo que para isso seja necessário voltar para o local de onde você veio.

Veja o trailer, filme distribuído pela Califórnia Filmes:

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