8/19/2019 12:00:00 AM

Crítica: Entre Tempos

Imagem: CineArt Filmes / DIVULGAÇÃO
É irônico o quanto as características de pessoas que conhecemos em nossas vidas e nos relacionamos, não necessariamente de forma amorosa, ficam na gente e em grau maior ou menor, dependendo do caso, ficam na gente pelos restos de nossas vidas. É irônico e triste, porque, em geral, queremos esquecer pessoas que ficaram para trás em nossos caminhos.

O uso de lembranças em obras é comum e se bem feito, cria obras memoráveis, “La Belle de Jour”, música de Alceu Valença é justamente sobre uma lembrança, no caso do cantor, “da moça bonita da praia de Boa Viagem” e no caso de “Entre Tempos”, filme dirigido e escrito por Valério Mieli, são as lembranças de um relacionamento que são passadas para a tela.

Acompanhamos a história de Lui (Luca Marinelli) e Lei (Linda Caridi), um jovem casal em momentos diferentes de suas vidas, mais exatamente no começo do relacionamento, no meio dele e no futuro de suas trajetórias. Vemos a trama através de lembranças dos dois e assim, percebemos que ele se lembra por viver no passado e ela se lembra por ter medo do futuro.

O que justifica a opção de montagem de Mieli, a montagem alternada entre os três tempos em questão, além de ajudar o público a entender a motivação por trás de certas decisões do casal, também desenvolve a história e dá base a ela, não apenas na história dos dois juntos, mas também na vida deles antes de se conhecerem.

Isso é feito junto com os diálogos do filme, o que torna a obra comovente e de fácil identificação para o público, já que essas lembranças servem como uma espécie de gatilho, seja para algum dos personagens se lembrar de algo, seja para justificar uma decisão futura, a que vemos logo a seguir a esse gatilho, devido a montagem alternada já abordada.

As diferenças entre as lembranças, o meio do caminho e a vida futura dos dois se dá pelo uso da cor, já que no começo do relacionamento, as lembranças deles são bem coloridas, vivas, o que não acontece nas memórias pessoais de cada um, já que as lembranças de Lui são coloridas em sua maioria, as de Lei são mais acinzentadas.

No meio do caminho, há a alternância entre muita cor e pouca cor, demonstrando como ambos mudaram e, por consequência, mudaram o relacionamento que tinham e o futuro é sem cor, quase todo preto e cinza para ambos os personagens, o que mostra como, de certa forma, o pessimismo dele se entranhou nela e se estabeleceu ali.

O que é triste, já que o otimismo de Lei é uma das coisas mais bonitas do filme, mas, como todo otimismo, ele morre. O que fica muito bem exposto pela atuação excelente de Caridi, que consegue criar sua personagem não apenas como protagonista, mas como o objeto de mudança para que o filme cresça e se torne bonito e real.

Bonito e real como o amor dos dois, que nunca morreu, pode ter enfraquecido, claro, mas ele sempre esteve ali, assim como as características dos outros que pegamos para nós de forma direta ou indireta, assim como “a moça bonita da praia de Boa Viagem” estará na música de Alceu e assim como entre tempos, nós mudamos sem nem mesmo perceber e na maioria das vezes, compartilhamos a mudança com outra pessoa, que também mudou sem nem perceber.

O que importa, no fim das contas, é se o sentimento continua ou não e no filme de Valério Mieli, o sentimento é sempre presente, por isso a obra é linda como é.

Veja o trailer do filme, distribuído pela CineArt Filmes:

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