Imagem: Fox Film do Brasil / DIVULGAÇÃO |
Por serem muitas vezes coisas implícitas e pessoais, é curioso que no novo filme de James Gray, o personagem principal, Roy McBride (Brad Pitt) busque o afeto não pela jornada pessoal interna e sim pela externa, explorando o espaço sideral inspirado pelo pai Clifford (Tommy Lee Jones), considerado uma lenda no meio, já que foi o primeiro homem a pisar em Júpiter, Saturno e Netuno.
Assim, buscando afeto no externo, através de sua profissão e tendo sido sozinho a vida toda, já que após o seu pai ser considerado morto em uma missão de desbravamento de Netuno ele não teve mais ninguém, é com surpresa que Roy é escalado para uma missão que consiste em enviar uma mensagem para o seu pai, que está vivo, em Netuno e pode ser o gerador de uma série de sobrecargas de energia que afetam todo o sistema solar.
Dessa forma, acompanhamos o protagonista em sua jornada, a qual Gray estabelece através de sua elegância tradicional na direção, cujo roteiro co escrito pelo diretor, usa a montagem, a fotografia (do ótimo Hoyte Van Hoytema de “Dunkirk”) e a narração em off, para conseguirmos sentir essa busca por afeto e a solidão de Roy.
Por isso, em muitos momentos a câmera é subjetiva, de maneira que o público veja o que Roy vê e por empatia, sinta o que ele sente, assim como o ponto de escuta também é subjetivo, escutamos o que ele escuta e também escutamos os sons do espaço sideral, logo, não ouvimos as explosões, por exemplo, já que no espaço elas são inaudíveis.
Essa subjetividade está presente tanto nas cenas de ação, quanto nas cenas de introspecção, as quais são características de Gray em seus filmes e roteiros. No caso de “Ad Astra” o interessante é que o tempo todo o público é levado a pensar que a obra é desprovida de afeto e o filme quebra esse pensamento através dessa pessoalidade gerada pelo ponto de vista de Roy, da mesma forma que pela narração em off.
Já que é através dela que sabemos o que Roy está pensando, o que ele de fato sente e o fato de a primeira cena no espaço (a entrada na torre), ser totalmente em ponto de vista subjetivo e narrada em off é notável. Primeiro, temos a sensação física de claustrofobia, já que Roy está com o capacete fechado, segundo que essa sensação claustrofóbica é explicitada através das falas de Roy naquele momento, no qual ele diz que finge afeto, finge ser simpático mas que por favor “não esbarre em mim”.
Até porque, todos nós fazemos isso, fingimos afeto por pessoas pelas quais não temos nenhum sentimento, de forma a manter uma boa convivência e não prejudicar os outros. Por esse último motivo, a falta de afeto pode ser encarada, na verdade, como uma demonstração de afeto, pois fingir sentimento para não deixar ninguém mal é uma atitude de altruísmo, por mais que seja custosa.
O que, sem dúvida nos leva a outro aspecto que quebra o pensamento do filme ser desprovido de afeto, que são as cores. Em sua maioria, os tons utilizados são quentes, vermelho, roxo, amarelo, laranja, azul, em alternância com o preto e a escuridão constantes do espaço sideral.
Esses tons tem significados, o vermelho indica amor, ao mesmo tempo em que representa a morte, a violência, já que Roy fala da ira do pai, da raiva deste e que ele também sente isso, mas que por trás disso existe amor e que ele quer ser melhor que o pai, logo, a variedade de significados permite ao filme tratar o afeto com a multiplicidade que ele merece.
A mesma coisa acontece com o roxo, que representa a morte e é um indicativo de morte, igual significa a falta de um adulto, por estar quase sempre presente em vários pontos de vários quadros, o que mostra como Roy sente falta do pai e também pode indicar como ele não contou com o afeto da mãe, já que em nenhum momento ele fala dela, a não ser quando perguntado.
Como se a morte e o vazio sempre estivessem presentes para Roy, o que torna sua busca por preenchimento no espaço, que é o maior vazio existente, contraditória, por mais que seja plausível. Ele queria orgulhar o pai, escolhendo o ramo de profissão dele, ao mesmo tempo em que realizava sua busca por autoconhecimento e afeto.
Por isso, a atuação de Brad Pitt é importante. Introspectiva, a construção de Roy pelo ator mostra essas dúvidas e contradições presentes em cada ser humano e as quais nunca conheceremos, pois não sabemos lidar nem com as nossas batalhas, quem dirá com as dos outros. O personagem faz o público entender, mesmo que não queira, que cada um tem suas batalhas e não sabemos da intensidade delas.
Talvez por esse motivo a montagem seja importante, assim como os ângulos de câmera. No caso desses últimos, eles são ousados, graças ao posicionamento deles ser incomum, como nas cenas que vemos o espaço através da nave, a câmera está posicionada na parte externa desta, assim como William Wyler posicionava suas câmeras na parte externa dos aviões para filmar a segunda guerra mundial em seus documentários.
Já na montagem, vemos como os cortes bem encaixados não apenas geram ritmo, mas mostram a batalha de Roy, o anseio dele de se livrar da solidão e se sentir em casa. Em uma cena ele diz exatamente isso, “mal posso esperar o dia em que minha solidão terminará e eu estarei em casa”, pelos cortes é possível perceber essa vontade, não pela velocidade deles, mas pela lentidão, como se o tempo passasse devagar de tão ansioso que ele está.
Ansioso não apenas pela conquista do afeto, seja do afeto por ele mesmo, seja por sentir afeto por outra pessoa, mas, principalmente, ansioso para viver, ele tem saudade de tem tudo que ele ainda não viu (como diria Legião Urbana) e ele tem a necessidade que todos nós temos de fechar um arco pessoal para que assim, possamos construir outro arco.
“Vou viver e amar”, Roy diz em dado momento e é isso que todos nós desejamos, viver e amar. Uma pena que nem todos conseguiremos isso.
Dessa forma, acompanhamos o protagonista em sua jornada, a qual Gray estabelece através de sua elegância tradicional na direção, cujo roteiro co escrito pelo diretor, usa a montagem, a fotografia (do ótimo Hoyte Van Hoytema de “Dunkirk”) e a narração em off, para conseguirmos sentir essa busca por afeto e a solidão de Roy.
Por isso, em muitos momentos a câmera é subjetiva, de maneira que o público veja o que Roy vê e por empatia, sinta o que ele sente, assim como o ponto de escuta também é subjetivo, escutamos o que ele escuta e também escutamos os sons do espaço sideral, logo, não ouvimos as explosões, por exemplo, já que no espaço elas são inaudíveis.
Essa subjetividade está presente tanto nas cenas de ação, quanto nas cenas de introspecção, as quais são características de Gray em seus filmes e roteiros. No caso de “Ad Astra” o interessante é que o tempo todo o público é levado a pensar que a obra é desprovida de afeto e o filme quebra esse pensamento através dessa pessoalidade gerada pelo ponto de vista de Roy, da mesma forma que pela narração em off.
Já que é através dela que sabemos o que Roy está pensando, o que ele de fato sente e o fato de a primeira cena no espaço (a entrada na torre), ser totalmente em ponto de vista subjetivo e narrada em off é notável. Primeiro, temos a sensação física de claustrofobia, já que Roy está com o capacete fechado, segundo que essa sensação claustrofóbica é explicitada através das falas de Roy naquele momento, no qual ele diz que finge afeto, finge ser simpático mas que por favor “não esbarre em mim”.
Até porque, todos nós fazemos isso, fingimos afeto por pessoas pelas quais não temos nenhum sentimento, de forma a manter uma boa convivência e não prejudicar os outros. Por esse último motivo, a falta de afeto pode ser encarada, na verdade, como uma demonstração de afeto, pois fingir sentimento para não deixar ninguém mal é uma atitude de altruísmo, por mais que seja custosa.
O que, sem dúvida nos leva a outro aspecto que quebra o pensamento do filme ser desprovido de afeto, que são as cores. Em sua maioria, os tons utilizados são quentes, vermelho, roxo, amarelo, laranja, azul, em alternância com o preto e a escuridão constantes do espaço sideral.
Esses tons tem significados, o vermelho indica amor, ao mesmo tempo em que representa a morte, a violência, já que Roy fala da ira do pai, da raiva deste e que ele também sente isso, mas que por trás disso existe amor e que ele quer ser melhor que o pai, logo, a variedade de significados permite ao filme tratar o afeto com a multiplicidade que ele merece.
A mesma coisa acontece com o roxo, que representa a morte e é um indicativo de morte, igual significa a falta de um adulto, por estar quase sempre presente em vários pontos de vários quadros, o que mostra como Roy sente falta do pai e também pode indicar como ele não contou com o afeto da mãe, já que em nenhum momento ele fala dela, a não ser quando perguntado.
Como se a morte e o vazio sempre estivessem presentes para Roy, o que torna sua busca por preenchimento no espaço, que é o maior vazio existente, contraditória, por mais que seja plausível. Ele queria orgulhar o pai, escolhendo o ramo de profissão dele, ao mesmo tempo em que realizava sua busca por autoconhecimento e afeto.
Por isso, a atuação de Brad Pitt é importante. Introspectiva, a construção de Roy pelo ator mostra essas dúvidas e contradições presentes em cada ser humano e as quais nunca conheceremos, pois não sabemos lidar nem com as nossas batalhas, quem dirá com as dos outros. O personagem faz o público entender, mesmo que não queira, que cada um tem suas batalhas e não sabemos da intensidade delas.
Talvez por esse motivo a montagem seja importante, assim como os ângulos de câmera. No caso desses últimos, eles são ousados, graças ao posicionamento deles ser incomum, como nas cenas que vemos o espaço através da nave, a câmera está posicionada na parte externa desta, assim como William Wyler posicionava suas câmeras na parte externa dos aviões para filmar a segunda guerra mundial em seus documentários.
Já na montagem, vemos como os cortes bem encaixados não apenas geram ritmo, mas mostram a batalha de Roy, o anseio dele de se livrar da solidão e se sentir em casa. Em uma cena ele diz exatamente isso, “mal posso esperar o dia em que minha solidão terminará e eu estarei em casa”, pelos cortes é possível perceber essa vontade, não pela velocidade deles, mas pela lentidão, como se o tempo passasse devagar de tão ansioso que ele está.
Ansioso não apenas pela conquista do afeto, seja do afeto por ele mesmo, seja por sentir afeto por outra pessoa, mas, principalmente, ansioso para viver, ele tem saudade de tem tudo que ele ainda não viu (como diria Legião Urbana) e ele tem a necessidade que todos nós temos de fechar um arco pessoal para que assim, possamos construir outro arco.
“Vou viver e amar”, Roy diz em dado momento e é isso que todos nós desejamos, viver e amar. Uma pena que nem todos conseguiremos isso.
Veja o trailer, filme distribuído pela Fox Film do Brasil:
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