9/05/2019 12:00:00 AM

Crítica: Adeus a noite

Adeus a noite
Imagem: Pandora Filmes / DIVULGAÇÃO
Hoje em dia, a internet é facilitadora de quase tudo. Podemos encontrar coisas inimagináveis e, principalmente, compartilhar essas coisas com outras pessoas, como se fosse uma espécie de espiral.

Infelizmente, o fundamentalismo e o extremismo também fazem parte disso e no caso de "Adeus a noite", vemos como Alex (Kacey Mottet Klein) e Lila (Oulaya Amanra), usaram a internet para difundir o fundamentalismo islâmico, com o objetivo de irem para a Síria lutar.

Dirigido e escrito por André Techine, acompanhamos essa história pelo ponto de vista de Muriel (Catherine Deneuve, uma das atrizes preferidas do diretor), avó de Alex, dona de um haras e professora de equitação, que hospeda o sobrinho em sua fazenda pensando que ele vai viajar para o Canadá. Até que ela descobre as intenções do neto e tenta impedir que elas se concretizem.

A obra usa a fotografia e os movimentos de câmera para gerar uma espécie de embate cultural, no caso, o conflito é entre as religiões, o islamismo e a falta de crença em algo maior.

Quando as cenas focam em Alex e Lila, o quadro fecha, de forma a ficarmos próximos dos personagens, isso serve para dois motivos, o primeiro é o público perceber que o filme, de forma alguma, apoia o que o casal quer fazer, a segunda é para percebermos o uso da cor, ou, no caso da oscilação entre ela e a falta dela, por mais que, em algumas cenas as cores fiquem desreguladas.

A falta de cor, expõe o primeiro ponto de forma mais explicita no sentido visual e a presença dela serve para mostrar como, cada vez mais, o que Alex e Lila querem fazer, é algo frequente. Isso justifica a opção de usar luz natural, mesmo nas cenas noturnas, levando realidade para a composição do quadro e sem dúvida alguma, construindo a atmosfera do filme de forma crua.

Essa crueza também está presente nos movimentos de câmera, que apesar de fluídos e muito bem feitos, são tradicionais e já vistos anteriormente. Mas, mesmo assim, eles funcionam bem, já que a montagem bem feita do filme aliada as panorâmicas e travellings, gera o embate de religiões citado.

Um bom exemplo é a cena onde uma parente de Muriel dança Chandelier da Sia em um almoço familiar e festivo, que é alternada com a primeira reunião de Alex e Lila com os outros fundamentalistas. A cena do almoço é colorida, a da reunião é sem cor, o almoço é fluído e a reunião usa os cortes secos para gerar ritmo (vale ressaltar que alguns desses cortes são errados e prejudicam a cena), novamente expondo como o roteiro do filme está do lado de Muriel.

Por falar nela mais uma vez, a atuação de Catherine Deneuve é boa, já que, apesar de ela não ser a protagonista do filme, ela se comporta como se fosse, pois sua presença em cena é dominante.

Mas, não sabemos nada sobre ela, pois o roteiro não se aprofunda na personagem, por mais que seja ela que mova a obra. Ela tenta reconciliar Alex com o pai, mas não sabemos o que aconteceu para eles se separarem, ela cita a mãe do rapaz, que morreu, mas não fica clara a relação que elas tinham.

Isso torna as 1h40 de projeção, apesar de curta, passíveis de cortes em determinados momentos, para que esse arco familiar se desenvolva de fato, então, em determinados momentos do filme, fica uma sensação de vazio, que poderia ter sido preenchida com isso.

Ainda assim, "Adeus a noite" é um filme interessante, já que conta uma história atual e trata a internet como a ferramenta que ela é, tanto pelo lado bom, quanto pelo lado ruim e portanto, essa realidade faz a obra cumprir sua proposta.

Veja o trailer aqui, filme distribuído pela Pandora Filmes:

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