9/02/2019 12:00:00 AM

Crítica: Quem você pensa que sou

Quem você pensa que sou
Imagem: Califórnia Filmes / DIVULGAÇÃO
Devido ao uso quase automático das redes sociais, não percebemos, na maioria das vezes, que atrás das telas de celulares, tablets e computadores, têm pessoas. Essa é uma das temáticas e sem dúvida é o tema que move "Quem você pensa que sou".

Com direção e roteiro de Safy Nebbou, acompanhamos Claire (interpretada por Juliette Binoche), uma professora de literatura que teve seu relacionamento terminado pelo seu namorado mais novo, Ludo (Guillaume Gouix). Por vingança, ela faz um perfil fake no Facebook e passa a se relacionar amorosamente a distância, com o amigo e companheiro de quarto do ex, Alex (François Civil).

O filme usa a montagem alternada para estabelecer sua história e gerar ritmo. Acompanhamos Claire contando a história brevemente descrita acima em consultas com sua psicóloga, a doutora Bormans (Nicole Garcia). Isso gera, além de um certo dinamismo, um ponto de vista contrário ao da protagonista, o que beneficia a obra.

Pois ao ver Claire ser confrontada o tempo todo, vemos como o que ela fez foi errado, não apenas por ser crime, pois um perfil fake pode ser caracterizado como apropriação de identidade, mas por ter esquecido que do outro lado da tela, há uma pessoa com sentimentos iguais aos dela.

O que gera uma discussão sobre o uso das redes sociais e como a internet, ao contrário do que se pensa, não é terra de ninguém, onde somos apenas números organizados por um algoritmo de uma rede social variada, na verdade, somos acima de tudo, apenas pessoas.

Isso justifica a fotografia um pouco mais escura do que o habitual, já que vemos uma história de uma pessoa que, além de idealizar um relacionamento, tem como seu maior rival a idealização da vida e de todos os seus aspectos, o que a leva a ser uma pessoa infeliz.

Essa fotografia escura, com uso de cores que varia entre o preto e o cinza, combina com a montagem que opta por cortes secos. Como o filme tem poucos movimentos de câmera, os cortes simples ajudam a criar velocidade, assim como a velocidade no ambiente das redes sociais.

Porém, apesar da mensagem condizente, o filme cria arcos secundários e os deixa de lado, como por exemplo o filho mais velho de Claire, os amigos dela e principalmente, sua profissão, que seria algo importante para o aprofundamento da protagonista.

Já que, por ser professora de literatura e usar isso em sua rotina - reparem a quantidade de livros que tem no apartamento dela, além de Claire fazer referências sobre grandes obras, como "Ligações Perigosas" e "Casa de Bonecas" - isso faz parte dela como pessoa e, sem dúvida, faz parte de seus relacionamentos, porém, não vemos isso pois sua profissão apenas aparece em poucas cenas.

Mas, a atuação de Juliette Binoche consegue transpor isso, de forma que não percebemos a falta que esse ponto faz para a história ficar mais interessante. A atriz cria uma personagem atrativa e multifacetada com o material que tem em mãos.

Se as cores usadas são escuras, Binoche faz a personagem ser triste, se os cortes são rápidos, ela se movimenta quase que na mesma velocidade, expondo como sua caracterização de personagem precisa que Claire seja uma mulher ansiosa, já que é essa ansiedade que faz, em parte, ela tomar determinadas atitudes em relação a Alex.

Ou seja, o fato de Binoche ser muito talentosa e inteligente, enriquece o filme, que provavelmente não funcionaria se fosse outra atriz no papel, pois, talvez o material não fosse tão bem aproveitado quanto foi pela já consagrada atriz francesa.

Assim, "Quem você pensa que sou", é um filme que vale a pena por sua mensagem ser válida e pela ideia principal ter sido bem trabalhada, porém, é Juliette Binoche que faz o filme valer mesmo a pena.

Veja o trailer aqui, filme distribuído pela Califórnia Filmes:

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