9/09/2019 12:00:00 AM

Crítica: Legalidade

Legalidade
Imagem: Boulevard Filmes / DIVULGAÇÃO
Contar a história do Movimento da Legalidade, liderado por Leonel Brizola para garantir que João Goulart assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros em 1961, além de ser uma ideia boa, é algo necessário, principalmente em tempos que nós nos esquecemos da nossa própria história.

Logo, é com bons olhos que “Legalidade”, filme dirigido e co-escrito por Zeca Brito, é visto em uma primeira impressão, pois acompanhamos justamente essa história. Brizola (Leonardo Machado), após descobrir que os militares tem planos de comandar o país, assume a responsabilidade de levar o povo a luta e garantir a volta de Goulart ao Brasil (ele estava na China). Ao mesmo tempo, a jornalista Cecilia (Cléo Pires), se envolve na luta e passa a ter um triangulo amoroso com os irmãos Luiz Carlos (Fernando Alves Pinto) e Tonho (José Henrique Ligabue), também envolvidos no movimento.

Por essa breve sinopse é possível perceber que o roteiro se divide em vários arcos e apesar de não ser um ponto de partida ruim, é aqui que residem os problemas do filme, já que a montagem não gera ritmo e o roteiro em si não desenvolve os arcos devido a quantidade deles.

A montagem é em sua maioria, construída através de cortes secos, que buscam alternar entre um arco e outro, além de criar outros arcos e passar a alternar entre esses após sua criação. A passagem de uma história para outra não é fluida, pois não há uma ligação direta entre elas, o que torna a alternância brusca, não dando tempo ao público de identificar o que está acontecendo.

Isso faz alguns dos arcos serem esquecidos pelo próprio roteiro, como o de Luiz Carlos, que começa mostrando o trabalho dele com os índios e é largado, para quase uma hora depois, vermos o personagem novamente, o que torna esse arco em especifico inútil, porque ele não se encaixa em nenhum dos outros arcos, até a metade do filme.

Que é justamente o momento onde ele deveria ter sido introduzido na história, já que, até então, ele tinha sido apenas citado através de diálogos. Da mesma forma que voltar no tempo, para mostrar o passado dele com Cecilia também quebra o ritmo da obra, além de ser algo que torna a personagem feminina previsível em um certo aspecto (não será revelado pois é spoiler).

Mas, essa previsibilidade não fica apenas em Cecilia, fica também em outros pontos, como no arco que mostra a filha dela, Blanca (Letícia Sabatella) tentando descobrir mais sobre o passado da mãe. Assim como o arco de Luiz Carlos, a filha poderia ter sido melhor incluída no decorrer do filme, já que ela aparece de maneira esporádica e é esquecida devido ao arco principal.

Que é o do movimento da Legalidade, que se prejudica devido a quantidade de arcos existentes na obra. Ele perde consistência devido a montagem e a forma já citada como ela foi usada e algumas cenas poderiam ter sido cortadas, como, por exemplo, a cena do sonho de Brizola ou, até mesmo, algumas das cenas de Tonho.

Devido a esse excesso de cenas, Leonel Brizola, apesar da boa atuação de Leonardo Machado, parece muito mais um idealista, que acredita piamente na noção de bem e mal, do que um político inteligente que lutou por reformas que ajudassem o povo e pela democracia.

Logo, a ideia é válida, mas “Legalidade” poderia ser um filme bem melhor e mais efetivo se focasse naquilo que é o seu título, no importante Movimento da Legalidade, feito em 1961, por uma das pessoas que, gostando ou não, foi uma das figuras mais importantes do país por muito tempo.

Veja o trailer aqui, filme distribuído pela Boulevard Filmes:

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