9/23/2019 12:00:00 AM

Crítica: O menino que fazia rir

O menino que fazia rir
Imagem: Pandora Filmes / DIVULGAÇÃO
Em geral, biografias são filmes difíceis de se fazer, já que cair na mesmice é muito fácil. Existe uma fórmula certa a se seguir e ela é atraente (como em "Rocketman" e "Bohemian Rhapsody"), simples e funcional, garantia de que o trabalho vai render dinheiro e atrair o público.

"O menino que fazia rir", felizmente, não a segue e consegue ter sucesso dentro de sua ousadia. Dirigido por Caroline Link (vencedora do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2003 por "Lugar nenhum na África"), a obra conta a história de Hans Peter (nome de batismo de Hape Kerkeling), que se tornou um dos comediantes mais bem sucedidos na Alemanha.

Porém, ao invés de contar a história na ordem crescente, o roteiro escrito por Ruth Toma, opta por ficar apenas na infância de Hans Peter, assim, o público acompanha a história de sua família, da sua relação com os avós, irmão, tias e, principalmente, com a mãe.

Assim, vemos os motivos pelos quais ele se tornou comediante, que foi simplesmente por carinho, já que o menino viu a mãe e avó paterna ficarem doentes e decidiu tornar a vida delas um pouco melhor.

O que é bonito e torna o filme afetuoso. Isso é reforçado e incentivado pela paleta de cor quente que é utilizada pela fotografia para compor os quadros, passando uma sensação de calor, assim como os figurinos dos personagens carregam cores vivas.

Sem esquecer, claro, que os quadros, em sua maioria abertos, são bem aproveitados por Link através de movimentos de câmera bem encaixados, que além de usufruírem da luz natural do local, também cria profundidade, fazendo o público entrar na história e criar empatia com facilidade.

Por falar em decisões de Link, escolher contar apenas a infância de Hans Peter, além de dar riqueza ao filme, se mostra justificado porque ele como profissional - como o próprio diz na narração em off - usou a família como inspiração, "sou meus pais, minhas avós, meu irmão e minhas tias", diz em dado momento.

Isso mostra que ele procurou no seu trabalho dar sentido a sua vida, ao mesmo tempo em que ajudava as pessoas que ama e que tirou a maioria das suas ideias de coisas que aconteceram em sua infância e possivelmente é isso, junto com seu talento, que gerou o seu sucesso.

Esse ponto só funciona devido a atuação excelente de Julius Weckauf, que consegue transmitir tudo isso graças a sua facilidade de expressão, que mostra apenas o talento do menino para construir o personagem.

Mas, ele tem ajuda dos diálogos, que usam a sinceridade tradicional das crianças para tratar e estabelecer assuntos adultos, como a morte, sexo, trabalho, relação pai e filho e aproximação através do amor. Um bom exemplo, é a cena onde uma amiga de Hans Peter fala da morte da avó dela e diz ao amigo para se preparar para lidar com a futura e inevitável perda.

A montagem também é importante, pois além de gerar ritmo, também permite liberdade para o bom elenco atuar, já que os cortes são bem encaixados e não prejudicam o trabalho dos atores e atrizes, encadeando as cenas de forma que tudo tem sentido, justamente como deve ser.

Ou seja, através do afeto presente no filme, o público se aproxima da história, pela montagem tudo se encaixa, com o foco no período de formação do personagem vemos como a carreira dele é um tributo familiar e com a boa direção e roteiro, a biografia ganha riqueza e ousadia.

Assim, "O menino que fazia rir" é uma grata surpresa, vinda de uma talentosa diretora que infelizmente é pouco conhecida do grande público. Espero que isso mude o mais rápido possível.

Veja o trailer aqui, filme distribuído pela Pandora Filmes:

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