11/11/2019 12:00:00 AM

Crítica: A Camareira

A Camareira
Imagem: DIVULGAÇÃO / Supo Mungam Films
É estranho e triste pensar em como os hábitos latinos americanos, que são os da maioria das pessoas que lerão essa crítica, são sempre subjugados em prol dos hábitos e costumes europeus ou norte-americanos. De certa forma, “A Camareira”, dirigido e co-escrito por Lila Avilés fala um pouco disso.

Pois no hotel de luxo em que Eve (Gabriela Cartol) trabalha tudo é em inglês, desde a voz eletrônica que anuncia o andar no elevador, os canais da tv e claro, os hospedes ou não são mexicanos ou falam inglês fluentemente. Enquanto no caso dos empregados é justamente o oposto disso, o que demonstra como as formas de colonialismo podem variar.

Inclusive no que diz respeito a trabalho, já que a trama de Eve é justamente essa. Ela trabalha como camareira porque precisa sustentar seu filho pequeno e assim praticamente mora no hotel, já que seu objetivo é uma promoção que pode ser alcançada através de horas extras feitas pelos funcionários.

É nesse aspecto que o filme se destaca, já que vemos como os abusos no trabalho não precisam necessariamente ser grosserias de patrão com funcionário, pode ser uma carga horaria que não permite que o empregado volte para a casa e tenha que dormir no trabalho ou até mesmo impedir que a pessoa tenha uma vida própria fora do hotel.

Por isso, Avilés contar a história de Eve apenas com cenas no hotel é algo que passa a sensação de claustrofobia e que o trabalho dela é uma prisão da qual ela não pode escapar, pois se ela faz isso, o filho dela fica sem comer e ela mesmo trabalhando não consegue pagar a babá.

A câmera parada e sem profundidade de campo expõe como o foco de Eve é o aqui e agora, sem tempo para pensar no futuro, a não ser que esse futuro envolva o trabalho, fora que o fato da personagem estar sempre nos cantos da tela, mostra não apenas a rotina robotizada, mas também passa a sensação de que Eve está à margem da sociedade.

Os tons branco e cinza também servem para essa claustrofobia, já que o hotel é predominantemente branco, o uniforme de Eve é cinza e devido a falta de profundidade de campo, essas são as cores que o público vê durante as 1h40 de projeção, com exceção, claro, dos hospedes, que sempre aparecem numa posição superior, exposta através de roupas com tons variados.

Da mesma forma que a fotografia e as cores, o som ser formado apenas de barulhos da diegese (sons do ambiente onde se passa o filme), transmite a sensação de prisão. Por mais que algumas coisas mudem quando Eve passa a viver um pouco mais, não há nenhuma mudança significativa, ou seja, ficamos na mesma rotina robotizada vivida pela protagonista.

Rotina e tentativa de quebra dela que é muito bem transmitida por Gabriela Cartol, de forma que as pessoas que não sentem empatia pela situação da personagem e pelos sonhos que ela nutre (como o vestido vermelho desejado por ela), são aquelas que provavelmente seriam os hospedes que tratam ela e a equipe do hotel com desprezo.

Assim, “A Camareira” não é um filme movimentado, mas é um filme que faz o público refletir sobre a situação trabalhista e inevitavelmente comparar o que é exposto pela obra com as coisas que várias mulheres como Eve vivem atualmente no Brasil. Uma obra que faz pensar e se tudo der certo, muda pensamentos retrógrados através dessa reflexão.

Veja o trailer aqui, filme distribuído pela Supo Mungam Films:

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