Imagem: Diamond Films / DIVULGAÇÃO |
Acompanhamos a história do cotidiano de uma periferia localizada em Paris, capital da França, por pontos de vista diferentes, dos moradores, representados por crianças e adultos e pelos policiais de uma unidade chamada “Anticrime”, que faz rondas diurnas e diárias no local.
O filme mostra muito bem como há diversas tensões sociais entre os grupos que vivem na periferia, desde os franceses, até os imigrantes e os ciganos. São pessoas diferentes de origens distintas que vivem em conjunto buscando uma vida melhor o tempo todo.
Sem dúvida, isso leva a criação de um sistema interno, para que as pessoas possam conviver com o mínimo de harmonia. Quando esse sistema é quebrado, em geral costuma ser por um motivo e esse, no filme, é uma coisa que une todos os grupos que vivem numa periferia, o não gostar da policia.
Esse não gostar pode ser por diversos motivos e todos eles são expostos por Ly e seu roteiro: abordar pessoas que não fizeram nada no meio da rua, se comportar de forma agressiva com os outros, inclusive com os abordados, corrupção, violência e até mesmo, tratar crianças como criminosos.
O último ponto acima é algo que faz o filme andar e é interessante como Ly usa as crianças como os “miseráveis” do título, já que eles e nós, adultos, são o futuro e é deles que qualquer mudança deve surgir. Os movimentos de câmera, fluidos, com muitos travellings e ângulos variados, não servem apenas para dar dinamismo ao filme e sim para mostrar que as crianças enxergam o mundo dessa forma, fluida, sem interrupções.
Não importa a origem delas, todas as crianças tem esse ponto de vista, desde os meninos que foram assistir ao jogo da França no centro de Paris logo na belíssima cena inicial, até aquele que fica brincando com o drone e os outros que ficam jogando água de um lado para o outro. Para eles, a vida é dinâmica, com ritmo.
E se para eles a vida funciona assim, para os policiais é justamente o oposto e através desse choque de pontos de vista é que o filme fala sobre os povos subjugados, sobre discriminação, sobre pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades desses policiais tentando sobreviver em um mundo que os odeia e que é comandado por pessoas que os odeiam.
Assim, tanto a atuação de Damien Bonnard (que interpreta Stephane), quanto a de Issa Perica, respectivamente policial e uma das crianças, faz o filme passar essa mensagem. O primeiro é um profissional honesto que ao ser transferido passa a trabalhar com outros dois policiais agressivos, porém, na medida que o tempo passa, ele precisa lutar para manter sua honestidade dentro da nova função.
Em compensação, Issa Perica (que interpreta uma criança com o mesmo nome que o seu), expõe como as crianças periféricas (e no caso dele, negro e filho de imigrante) precisam lutar desde cedo para tudo, pois, caso contrário, a sobrevivência delas está em risco. Isso fica claro em diversos momentos, mas um em si é interessante e é justamente no momento de lazer do menino, a primeira cena do filme, quando ele vai ver o jogo da França.
Será que de fato já paramos para pensar que o lazer também é uma forma de luta? Pois é justamente essa reflexão que a cena do jogo causa no espectador. Issa tem o direito de ver o jogo e torcer pela seleção de seu país tanto quanto as outras pessoas e claro, também tem outros direitos, esses mais básicos – ao menos no papel – como o de estudar, comer e beber.
Pensando no direito a se alimentar, é notável como a maior problemática do filme começa a partir de um leãozinho e uma galinha. Talvez, pensar na galinha correndo nos remeta a “Cidade de Deus” e não é sem motivo, pois “Os Miseráveis” têm influência do filme nacional citado e de “O Ódio”, também francês.
Esses três filmes conversam pois tratam do mesmo assunto de formas diferentes e todos eles são grandes filmes. “Os Miseráveis” mostra que a mudança vem do povo que vive nas periferias, dos negros e imigrantes, de quem foi obrigado a ser menor qualitativamente, mas que é maior e sempre foi muito maior, na quantidade.
Como diria o autor do livro de mesmo nome e o filme concorda com isso e o mostra visualmente: “Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável.” E se tem algo que Ladj Ly fez com esse filme, foi agir.
Sem dúvida, isso leva a criação de um sistema interno, para que as pessoas possam conviver com o mínimo de harmonia. Quando esse sistema é quebrado, em geral costuma ser por um motivo e esse, no filme, é uma coisa que une todos os grupos que vivem numa periferia, o não gostar da policia.
Esse não gostar pode ser por diversos motivos e todos eles são expostos por Ly e seu roteiro: abordar pessoas que não fizeram nada no meio da rua, se comportar de forma agressiva com os outros, inclusive com os abordados, corrupção, violência e até mesmo, tratar crianças como criminosos.
O último ponto acima é algo que faz o filme andar e é interessante como Ly usa as crianças como os “miseráveis” do título, já que eles e nós, adultos, são o futuro e é deles que qualquer mudança deve surgir. Os movimentos de câmera, fluidos, com muitos travellings e ângulos variados, não servem apenas para dar dinamismo ao filme e sim para mostrar que as crianças enxergam o mundo dessa forma, fluida, sem interrupções.
Não importa a origem delas, todas as crianças tem esse ponto de vista, desde os meninos que foram assistir ao jogo da França no centro de Paris logo na belíssima cena inicial, até aquele que fica brincando com o drone e os outros que ficam jogando água de um lado para o outro. Para eles, a vida é dinâmica, com ritmo.
E se para eles a vida funciona assim, para os policiais é justamente o oposto e através desse choque de pontos de vista é que o filme fala sobre os povos subjugados, sobre discriminação, sobre pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades desses policiais tentando sobreviver em um mundo que os odeia e que é comandado por pessoas que os odeiam.
Assim, tanto a atuação de Damien Bonnard (que interpreta Stephane), quanto a de Issa Perica, respectivamente policial e uma das crianças, faz o filme passar essa mensagem. O primeiro é um profissional honesto que ao ser transferido passa a trabalhar com outros dois policiais agressivos, porém, na medida que o tempo passa, ele precisa lutar para manter sua honestidade dentro da nova função.
Em compensação, Issa Perica (que interpreta uma criança com o mesmo nome que o seu), expõe como as crianças periféricas (e no caso dele, negro e filho de imigrante) precisam lutar desde cedo para tudo, pois, caso contrário, a sobrevivência delas está em risco. Isso fica claro em diversos momentos, mas um em si é interessante e é justamente no momento de lazer do menino, a primeira cena do filme, quando ele vai ver o jogo da França.
Será que de fato já paramos para pensar que o lazer também é uma forma de luta? Pois é justamente essa reflexão que a cena do jogo causa no espectador. Issa tem o direito de ver o jogo e torcer pela seleção de seu país tanto quanto as outras pessoas e claro, também tem outros direitos, esses mais básicos – ao menos no papel – como o de estudar, comer e beber.
Pensando no direito a se alimentar, é notável como a maior problemática do filme começa a partir de um leãozinho e uma galinha. Talvez, pensar na galinha correndo nos remeta a “Cidade de Deus” e não é sem motivo, pois “Os Miseráveis” têm influência do filme nacional citado e de “O Ódio”, também francês.
Esses três filmes conversam pois tratam do mesmo assunto de formas diferentes e todos eles são grandes filmes. “Os Miseráveis” mostra que a mudança vem do povo que vive nas periferias, dos negros e imigrantes, de quem foi obrigado a ser menor qualitativamente, mas que é maior e sempre foi muito maior, na quantidade.
Como diria o autor do livro de mesmo nome e o filme concorda com isso e o mostra visualmente: “Chega sempre a hora em que não basta apenas protestar: após a filosofia, a ação é indispensável.” E se tem algo que Ladj Ly fez com esse filme, foi agir.
Veja o trailer aqui:
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