2/27/2020 12:00:00 AM

Crítica: Tarde para morrer jovem

Tarde para morrer jovem
Imagem: Pandora Filmes / DIVULGAÇÃO
Não sei se “Tarde para morrer jovem” é uma história autobiográfica ou semiautobiográfica, mas, sem dúvida alguma, a história que o filme dirigido, escrito e co-produzido por Dominga Sotomayor, é pessoal em vários aspectos e é justamente isso que faz a obra funcionar.

Acompanhamos a história de Sofia (Demian Hernandez), Lucas (Antar Machado) e Clara (Magdalena Totoro). Os dois primeiros adolescentes, na faixa dos 17, a última uma criança, enquanto eles crescem durante o período pós ditadura militar no Chile dos anos 90.

Sabemos dessa última informação da breve sinopse acima não pela história ou roteiro e sim porque vemos, através das pessoas que moram naquela vila afastada da cidade, a recuperação da liberdade, ou ao menos a tentativa de recuperar algo que alguns conheceram (no caso dos adultos) e no caso dos mais novos é a tentativa de saber o que é viver sem repressão.

Através da câmera baixa, Sotomayor constrói um ambiente claustrofóbico e para isso a proporção da tela contribui (não chega a ser toda quadrada, como a de filmes antigos, mas também não é widescreen como a maioria dos filmes modernos), o que leva o público a ficar imerso naquela recolocação da liberdade ao mesmo tempo em que Sofia, Lucas e Clara, crescem.

Esse crescimento é o foco do filme e por Sofia ser a protagonista (por mais que Sotomayor dê um tempo de tela bem significativo para todos os personagens) e por ela ser adolescente, a obra fala sobre a passagem entre o período atual até a fase adulta de sua vida.

Isso é reforçado através da fotografia quase toda em luz natural, seja porque isso contribui para a abordagem que Sotomayor deseja (que não é minimalista, mas é sem dúvida alguma contemplativa) e porque a luz passa mensagens muito claras. Uma é que a adolescência é uma fase, na maioria das vezes, de otimismo, ou seja de luz e assim, na medida que o filme fica mais escuro, vemos como Sofia cresce aos poucos.

A outra, sem dúvida nenhuma diz respeito ao aspecto físico da vila onde a história se passa, já que nela não tem eletricidade e nem água encanada. É como se a fotografia predominantemente natural quisesse expor, nas cenas noturnas claro, como a luz faz falta para aquelas pessoas.

Isso também é exposto no som, por ser diegético (ou seja, não ter uma trilha sonora musical, serem sons apenas do ambiente do filme), aumenta a claustrofobia passada pela proporção de tela e mostra como a vila tem (não o tempo todo) dificuldades de comunicação, é só reparar nos personagens indo nas casas um dos outros para chama-los.

Apesar disso, Sotomayor constrói um ambiente otimista, com um clima familiar muito quente, ao mesmo tempo que aborda as fases do crescimento já ditas e nesse ponto, a qualidade está em não focar na adolescência e mostrar que na infância, o otimismo é frequente e dominante, na adolescência, descobrimos que esse otimismo passa e na fase adulta ficamos decepcionados em consequência disso.

A cena da festa mostra justamente o ponto citado acima, é só reparar em como os adultos se comportam de forma diferente dos adolescentes e crianças e vice versa, de forma que várias coisas ficam expostas, por mais que o clima caloroso citado acima se mantenha sem problema algum, muito devido ao amor que aquelas pessoas sentem umas pelas outras.

Talvez, “Tarde para morrer jovem” seja um pouco longo para a proposta e pela abordagem escolhida por Dominga Sotomayor para contar a história. Porém, isso não faz o filme perder a qualidade, pois a obra fala tão bem de tudo o que se propõe e fecha os ciclos que constrói com tanta qualidade, que esse aspecto não prejudica o ótimo filme chileno.

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