6/01/2020 12:00:00 AM

Crítica: Papicha

Papicha
Imagem: Pandora Filmes / DIVULGAÇÃO
Em 2000, o diretor e roteirista Jafar Panahi lança “O Círculo”, filme no qual três mulheres são as protagonistas de uma história que critica o tratamento dado a elas no Irã. A obra fez sucesso e ganhou o Festival de Veneza. Alguns anos depois o diretor foi proibido de filmar novos trabalhos, o que ele não obedeceu e vale uma pesquisa sobre essa história em especifico.

Em 2019, Mounia Meddour lança “Papicha” e é inevitável não pensar no filme de 2000, já que ambos contam a mesma história só que em lugares diferentes. No caso, esta obra fala de jovens mulheres estudantes em uma faculdade durante a Guerra Civil Argelina. A protagonista, Nedjma (Lyna Khoudri), para protestar, decide realizar um desfile de moda.

Logo de cara percebemos como o filme é similar com “O Círculo” não só na forma de contar a história, mas também nas personagens, já que ambos os filmes relatam, acima de seus arcos principais, as trajetórias de mulheres que se ajudam no que podem e por isso, cenas que podem parecer fora de contexto não são pois representam a independência.

Até porque, não adianta nada lutar se você não puder se divertir um pouco depois ou durante essa luta. Por isso, é notável como Meddour consegue falar de história e herança combativa, porque a luta de Nedjma durante a Guerra Civil foi a mesma luta que a mãe dela travou durante a Guerra de Independência da Argélia.

Em ambos os casos, como exposto, vemos como o papel da arte foi importante, no caso da mãe (como ela mostra), a dança teve um papel de diversão e tático durante a luta, no caso da filha, a moda e o idioma representam protestos visuais claros a repressão imposta naquela época.

Por isso que o filme se passa em francês e árabe, os dois idiomas representam o conflito que é relatado ali, já que um dos pontos utilizados para reprimir era o idioma (o que gera um diálogo importante na obra). Então falar francês era uma atitude de protesto simples, mas extremamente eficaz.

Assim como a moda, que é uma forma de expressão importante e mostra como o talento de Nedjma ficou preso por muito tempo, que tudo é muito mais difícil quando se quer fazer o que quiser em qualquer lugar e essa dificuldade é potencializada quando o país quer reprimir mulheres a todo custo e de todas as formas possíveis.

Por tratar de todos esses assuntos e até mais, “Papicha” funciona apesar de uma estrutura fílmica convencional, porque Mounia Meddour sabe como passar a mensagem que deseja, aonde quer chegar e ela faz isso com sensibilidade, por mais que tudo aquilo seja extremamente agressivo.

Ao escolher contar a história, a diretora mostra que é a sensibilidade que ganha da agressividade, por mais que precisemos desta última de vez em quando.

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