9/14/2020 12:00:00 AM

Crítica: Partida

Partida
Imagem: Pandora Filmes / DIVULGAÇÃO
Talvez, a ideia principal de “Partida” não seja a do possível encontro com José Mujica (ex-presidente do Uruguai) ou a atriz Georgette Fadel ter decidido se candidatar a presidência da república após as eleições de 2018, mas, sim, o embate entre dois polos que tomou o Brasil desde 2013.

Dirigido por Caco Ciocler, o documentário conta justamente a história acima e após a decisão de Fadel, ela, um grupo de atores e atrizes, uma equipe de filmagem e o diretor, decidem viajar de ônibus para o Uruguai, onde tentarão passar a virada de 2018 para 2019 com José Mujica.

Como dito, o filme trata do embate entre dois polos, no caso, a esquerda e a direita, representados respectivamente por Fadel e por um outro ator, onde acompanhamos discussões longas sobre diversos assuntos e claro, opiniões diferentes sobre as temáticas debatidas.

O que mais impressiona nisso e justamente o que faz o filme funcionar, é a improvisação de tudo que acontece, pois tudo, exatamente tudo, não é planejado, são coisas que vão acontecendo na medida em que acontece o filme e claro, a viagem do grupo para o Uruguai.

De forma que a imersão do público não é causada apenas pela discussão dos atores, mas também pela naturalidade com que tudo acontece. Assim, é interessante notar como, mesmo sendo improvisado, Ciocler tem um cuidado em enquadrar as discussões sempre com algo no meio dos participantes dela, dividindo-os.

Talvez isso seja uma espécie de metáfora do que o Brasil (e vários outros países no mundo) virou após 2013, porém, sem dúvida é uma maneira de o público ver e se não percebeu ainda, perceber, que determinados assuntos não podem mais ser negados devido a enxurrada de informações e de pessoas falando sobre eles.

Sendo que esses assuntos são discutidos por pessoas sendo apenas... pessoas, de forma que vemos os defeitos daquele grupo de forma clara. Para citar um e o que faz mais sentido dentro da história contada, o romantismo que Fadel tem em relação a esquerda, o que gera a boa cena onde ela e uma atriz discutem justamente sobre isso.

O público percebe que a atriz que apresenta um contraponto e mesmo que concorde com Fadel, ela tem razão. No papel, tudo aquilo que a protagonista fala é muito bom, porém, na prática, talvez ela não seja a pessoa ideal para ser a líder de um país, justamente por não ter vivido coisas que ela precisasse viver para tal, devido a sempre ter boas condições de vida.

De forma que assim, o filme se torna realista de certa forma, pois não esconde as pessoas que trabalha durante uma hora e meia atrás de uma perfeição que não existe, o que, sem dúvida, cria empatia com o público, pois ninguém é perfeito sempre, independente da situação.

Logo, “Partida” pode representar não a partida de um grupo de pessoas em direção a um rolê aleatório no Uruguai, mas sim a partida de um país para algo pior, que nesse documentário, é representado pela discussão de duas pessoas (ou personagens, como preferir) que são opostos mas tem algo em comum, querer o melhor para seu país.

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