10/05/2020 12:00:00 AM

Crítica: E então nós dançamos

E então nós dançamos
Imagem: Zeta Filmes / DIVULGAÇÃO






Se “Retrato de uma jovem em chamas” usa a pintura para construir o amor entre as duas protagonistas, “E então nós dançamos” usa a dança para fazer a mesma coisa, só que ao invés de duas mulheres, são dois homens que acompanhamos nessa história.

Dirigido e escrito por Levan Akin, o protagonista do filme é Merab (Levan Gelbakhiani). Dançarino em uma companhia, ele conhece Irakli (Bachi Valishvili), que foi contratado como dançarino substituto. Assim, ele precisa lidar com a descoberta de um novo amor, além, claro, da autodescoberta. 

O filme usa a dança para construir toda a sua história, desde o relacionamento entre Merab e Mary Ana Javakhiskvili), sua amiga mais próxima, passando pelo relacionamento familiar do protagonista, até o ponto principal da obra, que é ele e Irakli se envolvendo e querendo ser eles mesmos em um país que não permite isso. 

Pois, como citado em vários exemplos dentro do filme, a Georgia discrimina ativamente a comunidade LGBTQIA+, seja no dia a dia (como vemos na história de Merab) ou de maneiras legais, como a proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo e o fato de a lei que proibia até mesmo a existência de pessoas LGBTQIA+ ter sido mudada em 2000.

A projeção prefere focar na vida do que na luta, o que, de certa forma, é uma maneira de abordar a luta por direitos, pois essa luta é nada mais, nada menos, do que uma luta por liberdade e a dança está entre as formas de arte que melhor representam a liberdade de ser o que se é.

Não à toa, o filme fica mais claro nas cenas de dança e é um pouco mais escuro nas cenas em que ela não está presente. Da mesma forma que o filme aumenta sua claridade na medida em que Merab e Irakli vão se conhecendo e que a vontade dos dois se envolverem vai aumentando.

De forma que a obra consegue comunicar o público o que os dois estão sentindo sem falar ou expor de alguma forma explicita esse sentimento, o que mostra como Akin leva a sério o seu público e dá valor para uma fotografia bonita, bem feita e funcional.

Claro, que a forma principal de mostrar o que eles estão sentindo é a dança, o que nos leva as ótimas sequencias de dança durante a obra, que apresentam para o público que não está familiarizado com a dança georgiana, algo que é forte e muito bonito de se ver e como a cena do final deixa claro, pode ser algo bonito e ao mesmo tempo ser uma forma de protesto e demonstração de independência, como toda arte pode ser.

Uma dessas coisas Merab fez, a outra ele está no processo de conquista, porém, é algo que ele vai poder expressar sempre através da dança, o que torna o final de “E então nós dançamos” otimista de certa forma, já que ele sempre terá sua arte, mesmo que escolha não a seguir como uma carreira.

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