10/22/2020 12:00:00 AM

Crítica: Nova Ordem

Nova Ordem
Imagem: DIVULGAÇÃO

De certa forma, todo início de revolução (independente da ideologia e do motivo), é uma série de imagens fragmentadas, onde as pessoas tentam encontrar algum tipo de organização, ordem, para que possam seguir e executar aquilo que desejam, e as vezes, fazer aquilo que não desejam.

Foi inevitável para mim não pensar na Revolução Iraniana ao assistir o novo filme de Michel Franco, “Nova Ordem”. A revolução iraniana começa como um movimento apoiado e endossado pelo povo, feito por ele e para ele, quando vem a vitória, o povo descobre que foi enganado e acontece exatamente o oposto daquilo pelo qual lutaram.

Não acho que o povo em “Nova Ordem” tenha sido de todo enganado, porém, é claro que muitos ali não queriam que a revolução fosse feita daquela forma. Em meio a protestos, acontece uma festa de casamento em uma família rica. A festa acaba quando os protestos chegam até a casa, levando a uma onda de acontecimentos, violentos ou não.

Está claro que aquelas pessoas buscam o estabelecimento de uma nova ordem, ordem na qual o povo está no comando e na qual os ricos não existem, porém, essas pessoas não perceberam que não se muda as estruturas de uma sociedade e de todo um sistema de forma rápida e imediata, é preciso trabalho, educação e disciplina, para que a violência não tome conta e que o movimento funcione.

De forma que não é exatamente uma novidade quando vemos as estruturas ali presentes não sofrendo nenhum tipo de mudança, se Rolando continua pobre, sem conseguir ir ao hospital para ficar com sua esposa Elisa, o empregado da família rica continua sendo esse mesmo empregado e claro, os ricos continuam sendo ricos, independente do que aconteça.

Podemos reparar na cena da festa, a parte inicial do filme, com um pouco mais de observação, que todo aquele movimento não dará certo. Mesmo com um protesto massivo acontecendo, os ricos continuam naquela festa, bebendo, usando drogas e distribuindo envelopes com grandes quantias como se fossem copos de água.

Mas o pobre continua preocupado com a esposa doente e se humilhando para conseguir a quantia necessária para a operação que a mulher precisa. Ou seja, como diria o conhecido axé “o de cima sobe e o debaixo desce” e não adianta nada tudo aquilo, para, no fim das contas, crimes serem cometidos sob a justificativa da revolução, crime é crime em qualquer momento (e há cenas pesadas e exageradas a meu ver).

Porém, o pior de tudo é pensar que aquilo que vemos naquele protesto é algo plenamente possível, principalmente os crimes de ódio contra minorias que são cometidos e pior do que isso, é pensar que muitas pessoas vão concordar com esse tipo de revolução e chamarem a si próprias de progressistas, para se sentirem melhor consigo mesmas.

Enquanto isso, continuamos vendo e fazendo parte da série de imagens fragmentadas, ainda sem uma organização correta, devida e principalmente, ainda sem um norte, sem um caminho, apenas a tinta verde usada nos protestos do filme jogada na gente, nos impedindo de ver e organizar algo real e correto.

As estruturas não mudarão caso continuemos nesse caminho e a nova ordem será exatamente a “Nova Ordem” do filme de Michel Franco, mais velha do que andar para a frente.

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