Imagem: DIVULGAÇÃO |
Foi inevitável para mim não pensar na Revolução Iraniana ao
assistir o novo filme de Michel Franco, “Nova Ordem”. A revolução iraniana começa
como um movimento apoiado e endossado pelo povo, feito por ele e para ele,
quando vem a vitória, o povo descobre que foi enganado e acontece exatamente o
oposto daquilo pelo qual lutaram.
Não acho que o povo em “Nova Ordem” tenha sido de todo enganado, porém, é claro que muitos ali não queriam que a revolução fosse feita daquela forma. Em meio a protestos, acontece uma festa de casamento em uma família rica. A festa acaba quando os protestos chegam até a casa, levando a uma onda de acontecimentos, violentos ou não.
Está claro que aquelas pessoas buscam o estabelecimento de
uma nova ordem, ordem na qual o povo está no comando e na qual os ricos não
existem, porém, essas pessoas não perceberam que não se muda as estruturas de
uma sociedade e de todo um sistema de forma rápida e imediata, é preciso
trabalho, educação e disciplina, para que a violência não tome conta e que o
movimento funcione.
De forma que não é exatamente uma novidade quando vemos as estruturas
ali presentes não sofrendo nenhum tipo de mudança, se Rolando continua pobre, sem
conseguir ir ao hospital para ficar com sua esposa Elisa, o empregado da
família rica continua sendo esse mesmo empregado e claro, os ricos continuam
sendo ricos, independente do que aconteça.
Podemos reparar na cena da festa, a parte inicial do filme, com um pouco mais de observação, que todo aquele movimento não dará
certo. Mesmo com um protesto massivo acontecendo, os ricos continuam naquela
festa, bebendo, usando drogas e distribuindo envelopes com grandes quantias
como se fossem copos de água.
Mas o pobre continua preocupado com a esposa doente e se humilhando
para conseguir a quantia necessária para a operação que a mulher precisa. Ou
seja, como diria o conhecido axé “o de cima sobe e o debaixo desce” e não
adianta nada tudo aquilo, para, no fim das contas, crimes serem cometidos sob a
justificativa da revolução, crime é crime em qualquer momento (e há cenas pesadas e exageradas a meu ver).
Porém, o pior de tudo é pensar que aquilo que vemos
naquele protesto é algo plenamente possível, principalmente os crimes de ódio contra
minorias que são cometidos e pior do que isso, é pensar que muitas pessoas vão
concordar com esse tipo de revolução e chamarem a si próprias de progressistas,
para se sentirem melhor consigo mesmas.
Enquanto isso, continuamos vendo e fazendo parte da série de
imagens fragmentadas, ainda sem uma organização correta, devida e
principalmente, ainda sem um norte, sem um caminho, apenas a tinta verde usada
nos protestos do filme jogada na gente, nos impedindo de ver e organizar algo real e
correto.
As estruturas não mudarão caso continuemos nesse caminho e a
nova ordem será exatamente a “Nova Ordem” do filme de Michel Franco, mais velha
do que andar para a frente.
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