Imagem: DIVULGAÇÃO |
A maior febre que alguém pode ter é a de não ser você mesmo.
Esse tipo de coisa causa problemas inimagináveis, mas, quando se vive em um
país como o Brasil, isso acontece com mais frequência do que se imagina, o que
gera solidão e inevitavelmente, tristeza.
Justino (Regis Myrupu) é um personagem triste, porém, mais
triste ainda é o fato que o protagonista de “A Febre”, dirigido e escrito por Maya
Da-Rin não é apenas o protagonista desse filme, mas, na verdade, é uma
representação de vários indígenas que passam pela mesma coisa que ele passa.
Vigia do porto da cidade, pai e indígena, acompanhamos Justino enquanto ele tenta viver sua vida e cumprir sua rotina, com o passar do tempo, ele passa a ter uma febre com certa frequência e começa a tratar isso em seu próprio ritmo.
Não dá para negar que o filme não vai agradar todos os
públicos, pois devido ao ritmo adotado pela obra e pela inercia da projeção,
pode ser que a obra se torne difícil para muitos. Inércia representada seja
pela falta de “ação” (entre aspas porque a falta de ação é uma ação) e pelos planos
abertos, onde vemos Justino sempre engolido pelo mundo a seu redor.
Porém, Da-Rin usa isso como ferramenta, pois, a vida de Justino
é tediosa, rotineira, sem nenhum tipo de encanto, justamente porque ele, para
conseguir viver, teve que abandonar seus costumes e se embranquecer.
Embranquecimento que vemos de diversas maneiras, mas o
principal é o emprego dele, pois ele passa por uma série de situações, diariamente,
que refletem como a vida de uma pessoa não branca é difícil em um país racista
e é isso que causa a febre do título nele.
A necessidade de ter um emprego o faz ser falso, o que o faz
ir contra sua própria cultura para conseguir se alimentar todos os dias, o que
o leva a uma crise mental séria, onde caso ele não faça algo para mudar isso,
algo que leve de volta para quem ele é, provavelmente o sistema o matará.
Ao mesmo tempo em que sua filha é bem sucedida dentro dessa
sociedade, o que o leva a outro ponto, pois, se ela conseguiu se adaptar, ele
tem que pelo menos tentar fazer isso, caso contrário provavelmente a
perderá, o que o leva a solidão e a outro tipo de falsidade, o de não se
entender como pessoa, mas na verdade, ter se tornado uma entidade, no caso, a de
pai.
Mas, é notável como Justino, apesar de tudo isso, é amoroso
com as pessoas, gentil e é essa a mensagem que fica de “A Febre”, é possível
ser gentil, é possível ser bom, mesmo quando, independente do motivo, nos
sentimos muito sozinhos. Isso não vai fazer a solidão passar, principalmente
uma solidão que é gerada por preconceito e por não poder ser quem é para
sobreviver, mas, ao menos, é possível ser bom com quem está ao nosso redor.
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