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Reencontros são estranhos, imagino, e não necessariamente
reencontros com pessoas ou situações, mas também com sentimentos, como, por
exemplo, com a sensação de recomeço, uma nova tentativa, uma segunda chance que
você pensava não ter mais, mas que de repente apareceu, sem ao menos anunciar
sua chegada.
Mas mesmo que tivesse anunciado que estaria por vir, em
geral as pessoas não têm tempo para ler os sinais. Trabalho, lazer, obrigações,
a vida na cidade grande impede que você tenha tempo para reflexão,
autoconhecimento e leitura dos sinais que estão ao seu redor, isso é, se eles
de fato estiverem lá.
Porque pode ser que não estejam lá e em “Comrades – Almost a
love story” (dirigido por Peter Chan) os sinais iam e viam, assim como Li Qiao
e Li XiaoJun (Maggie Cheung e Leon Lai, respectivamente) iam e viam nas vidas
um do outro. Ambos tentando uma vida melhor em Hong Kong, se conhecem e se
identificam, apesar de seus objetivos diferentes. Ele, quer trazer a namorada
para a cidade e ela apenas quer ser rica e bem-sucedida financeiramente.
Porém, os sinais estavam lá e eles os transformaram em uma
história, história que assim como todas as trajetórias de todas as pessoas que
moram em grandes cidades, são unidas por aspectos em comum e principalmente,
por velocidade e falta de tempo. A velocidade em fazer tudo o que você precisa
fazer o mais rápido possível e bom, a falta de tempo tradicional que uma vida
atribulada causa, impede que o amor nasça na maioria dos casos.
Onde justamente entra os aspectos em comum e eles não
precisam ser necessariamente grandes, podem ser pequenos, como perceber que uma
pessoa é sozinha e mesmo sabendo que ela está te dando um golpe usando uma
matrícula de escola de inglês, “cair” nele, apenas para ter com quem conversar,
ou gostarem de uma diva pop e a usarem como modo de passar mais tempo juntos.
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Ou, pura e simplesmente, admitirem um para o outro que
apesar das histórias diferentes, dos caminhos diferentes, da velocidade da vida
e dos sinais que estão lá para serem lidos e os impedirem de se unir, que eles
se amam e não querem ser apenas companheiros no sentido de amizade, eles querem
uma vida juntos, mesmo que para isso precisem de vários recomeços e
reencontros.
Esses reencontros acontecem apenas devido a problemas, que
ambos têm, mas eles são de certa forma forçados por aqueles pequenos aspectos
em comum, que são alguns dos sinais que estão entre os dois, prontos para serem
lidos. Eles acontecerão, quer queira ou não e nem sempre você, assim como o
casal do filme, estará pronto para lidar com isso, mas o ponto principal é se
você lida ou não.
“Nunca fui um homem corajoso”, diz em certo momento o
protagonista, porque ele sabe que não lida com os sinais que lhe são dados da
forma com a qual deve lidar. Ele tem medo do mundo, da vida e por mais que
muitas pessoas neguem sentir isso, todos nós temos esse medo e assim como o
personagem, não lidamos com ele da forma correta, nos escondemos, temos saudade
de algo e não lutamos por aquilo.
Não necessariamente porque não queremos lutar, mas sim por
fazermos uma leitura errada dos sinais que nos são oferecidos. Li XiaoJun fez
isso em uma série de momentos, principalmente no que diz respeito a desistência
de sua vida passada (na sua cidade natal) em relação a sua vida atual (em Hong
Kong) com Li Qiao, que também fez isso em relação a várias coisas. A má leitura
de sinais em comum de ambos foi ligada ao sentimento de um pelo outro.
Eles se gostam, então por que não ficam juntos? Pelos
projetos individuais. Mas esses projetos não poderiam ser interligados, mesmo
que feitos individualmente, desde que houvesse a cumplicidade de ambos? Sim. E
é aí que está o ponto, as contradições naturais de cada um de nós e dúvidas
como essas que foram escritas nesse parágrafo, não deixam as pessoas agirem
racionalmente e quando elas agem por impulso, em geral as coisas dão errado.
Não que agir por impulso seja ruim, muito pelo contrário, mas tanto o impulso quanto o racional podem estar ligados, se não fossem nossas rotinas atribuladas de moradores de cidade grande, a falta de tempo, o não refletirmos sobre nós mesmos e sobre o próximo, tudo poderia ser melhor.
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Algo que faz as coisas serem melhores é o acaso, o acaso que
está presente em vários sinais e aspectos em comum, como, por exemplo, gostarem
de uma diva pop e a usarem para passar mais tempo juntos, algo que pode servir
como ponto de união entre duas pessoas independente do lugar onde estejam, em
Hong Kong ou em Nova Iorque.
Ou seja, um reencontro. Uma coisa pequena, um sinal mínimo,
algo bobo, pode gerar um reencontro que tanto Li Qiao, quanto Li XiaoJun,
precisavam e queriam, da mesma forma que isso pode acontecer com a gente, mesmo
que sigamos caminhos diferentes, mesmo que não consigamos ler os sinais da
forma correta e, principalmente, mesmo se nos rendermos a solidão por pura e
simples falta de opção.
A solidão é um caminho, a tristeza também e as vezes é
apenas isso que nos é oferecido, mas, as vezes surgem uns sinais entre um ponto
e outro, que caso nós aproveitemos, caso nós tenhamos tempo para ler esses
sinais, algo bom pode surgir, mesmo com o caminho percorrido antes.
No fim, poderemos estar numa rua, parados em frente a uma
loja, vendo uma notícia da diva pop que gostávamos e quando olharmos um para o
lado, percebermos que apesar de tudo que envolve uma vida na cidade grande e
todo o caminho, as más leituras dos sinais, a pessoa que queremos e não
sabíamos (ou sabíamos) está do nosso lado.
Isso é, se deixou de estar em algum momento. Pois, caso
contrário, o reencontro era apenas uma questão de tempo. Mas, tempo, dentro da
rotina atribulada?
Melhor parar por aqui, está... repetitivo.
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