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This critic is part of Chicago Film Festival 2021 coverage
Imagino que Ingmar Bergman tenha tido um papel considerável
na cinefilia e posteriormente na direção de Mia Hansen-Love, pois “Bergman
Island” é de certa maneira uma homenagem da realizadora a carreira do diretor
sueco, não apenas pelo motivo óbvio da história desse filme se passar na ilha
onde Bergman morou, mas por demonstrar certo carinho com as histórias,
carinho que com certeza não é recente.
Pois tanto Cris (Vicky Krieps), quanto Tony (Tim Roth), são realizadores
que tem um carinho grande pelo cinema e pelo cinema de Bergman. Acompanhar o
casal por Farö e ver os dois conhecendo a ilha, já tendo domínio pela obra do
diretor, é de certa maneira reconfortante, porque vemos a realizadora passando
seu amor para frente e tornando-o público através de seus personagens.
O encanto do casal com a ilha é o nosso encanto e o encanto da diretora. Para aqueles que gostam de Bergman (meu caso), o filme ganha um contorno a mais, levando em consideração que provavelmente eu nunca terei a oportunidade de fazer o que o casal protagonista fez, conhecer aquele local e ficar muito próximo de algo importante para a minha trajetória (breve e não relevante) no cinema.
“Bergman Island” tem sua força no ato de contar histórias e
principalmente no ato de se envolver com a história que você está contando e
não apenas ser um interlocutor distante e imparcial. A imparcialidade, a
frieza, não é bem-vista na arte, porque ela é impossível. Boas histórias têm
algo das pessoas que a estão contando, o autor de qualquer coisa (livro, texto,
filme, pintura) precisa deixar algo seu na história, pois é esse algo que
causa empatia no espectador.
Por isso, acredito que quando Cris conta seu roteiro para o
companheiro, é algo forte porque representa tanto a personagem, quanto a própria Mia
Hansen-Love, se abrindo para o público e escolhendo ser vulnerável, expondo suas
fraquezas para o público e compartilhando-as em uma espécie de desabafo.
Talvez por isso a história de Cris fosse tão... concreta,
porque para ela, a história contada não é algo distante de si, mas que faz
parte de si, como se Amy (Mia Wasikowska), personagem principal do roteiro da
personagem de Vicky Krieps, fizesse (ou ao menos tivesse feito parte) da
personalidade de Cris e assumir isso publicamente é assumir vulnerabilidade e
isso é força.
Se Amy é Cris se expondo para o mundo, Cris é Mia
Hansen-Love se expondo para o mundo ou no mínimo para nós espectadores. É como
se a diretora contasse a própria história de como é o processo criativo dela em
relação a seus filmes e em relação a seu carinho por Bergman. As dúvidas de
Cris – compartilhadas com Tony em certa cena – com certeza foram as mesmas que
a diretora teve em algum momento do processo de criação de todos os seus
trabalhos.
Porque a dúvida é algo natural do ser humano e ser humano é
ser vulnerável, ser forte é assumir a própria fraqueza e ser mais forte ainda é
escolher compartilhar essa fraqueza com o outro e permitir julgamentos.
Contraditório pensar que esse compartilhamento de dúvidas e medos é algo
demonstrativo de nossa força e pensar que a diretora desse filme escolheu, de
livre e espontânea vontade, fazer isso através de sua protagonista é algo bem
bonito de se pensar. Cinema é risco, assim como toda a arte.
Porém, levando em consideração filmes recentes como “Gunda”,
“Cow” funciona da mesma maneira, levando o público a entender que os animais
fazem parte da nossa rotina e são seres vivos assim como nós. Talvez por isso a
câmera quase subjetiva de Arnold – só lembramos que ela de fato não colocou a
câmera em uma vaca quando algumas delas batem na lente em alguns momentos – seja
funcional, pois nos causa essa sensação de aproximação.
Essa aproximação das pessoas com os animais deveria ser mais
natural e “Cow” mostra que isso é possível.
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