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This critic is part of Chicago Film Festival 2021 coverage
As vezes todos nós sentimos vontade de ir embora, largar
tudo e isso pode ter um sentido bom e um ruim. Há consequências, claro, como em
qualquer escolha, mas muitas vezes é uma decisão mais instintiva do que
racional, porque na maioria das vezes a vida é mais instintiva do que racional.
“Sideral” é um filme que nos leva a pensar nesse tipo de decisão.
O curta de Carlos Segundo faz com que reflitamos no que é racional e calculado
em relação ao que é instintivo. A obra conta a história de uma família, que
assim como toda a cidade, aguarda o lançamento de um foguete para o espaço. O pai,
mãe e seus dois filhos aguardam esse fato, que domina a mídia do país.
Interessante como algo que não vai fazer diferença efetiva na vida daquela família (assim como na vida de qualquer brasileiro comum), domine as rodas de conversa daquelas pessoas e principalmente, mude as formas de pensar dos indivíduos. Ou ao menos seja uma espécie de motor para que as pessoas façam algo que elas sempre quiseram fazer e apenas não chegaram a isso porque algo as impediu.
E quando um fato tão dominante como um lançamento de foguete
se torna um motor social, temos algo que é “Sideral”, pois qualquer coisa,
principalmente no meio coletivo brasileiro pode se tornar um motor, um gatilho,
como infelizmente descobrimos todos os dias nos tempos atuais.
Segundo mostra como todos nós podemos ser sua protagonista,
uma mulher da qual não sabemos muito, mas deduzimos o suficiente. Ela teve sonhos que
não conseguiu realizar, vive uma vida da qual tem coisas boas (os filhos dela), mas onde não nutre a vontade de viver tão necessária e cara a todos, além
disso, como se não fosse o suficiente, ainda tem o lançamento do foguete.
Esse fato se torna um símbolo de opressão. O foguete é algo
que engole as pessoas assim como o sistema vigente. Como dito, o lançamento não
causa nenhuma mudança efetiva na vida das pessoas comuns, que acordam todos os
dias para trabalhar e ganhar pouco durante oito horas por dia, para, nos
momentos de lazer, fazer algo que gosta de maneira mal feita. O lançamento é
apenas um mantenedor sistemático, os ricos ficam mais ricos e os pobres ficam
mais pobres.
A sociedade sempre está em segundo plano para aqueles de
fato interessados no lançamento do tal foguete, os quais o filme nem mostra,
porque não há necessidade disso, já sabemos quem são. O filme mostra a vontade
que nós temos de fugir de todo esse esquema no qual somos obrigados a viver e
se o destino for o espaço sideral, em um foguete que não foi feito para você,
tudo bem, o que importa é fugir de tudo no final das contas.
Racionalidade e instinto é o conflito que move cada um de
nós e “Sideral” de certa forma consegue resumir isso em quinze
minutos. O curta de Carlos Segundo é uma ferramenta de estudo de sistema e
principalmente, de quem mantém o sistema vivo mesmo sem ligar para ele, as
pessoas.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Chicago
This critic is part of Chicago Film Festival 2021 coverage
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