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Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Chicago
This critic is part of Chicago Film Festival 2021 coverage
Não dá para saber até que ponto nós iriamos por amor, a não
quando chegamos até esse ponto. Se uma pessoa nos move desse jeito, de
maneira a não pensarmos quando agimos, é algo a se pensar, isso é, caso se
tenha tempo para se pensar nas atitudes que tomamos devido a algo ou a alguém.
Guled não tem esse tempo, tempo para ele é trabalho e mais,
tempo para ele é um luxo, pois ele precisa de dinheiro para salvar sua mulher,
Nasra, que precisa passar por uma cirurgia urgente ou irá morrer. “The
gravedigger’s wife” (em tradução livre, “A esposa do coveiro”), é dirigido por
Khadar Ayderus Ahmed e conta essa história, de amor e luta em meio as vilas da
Somália.
É nessas vilas onde acontece a ação e é nessa ação que vemos uma rotina conhecida e próxima a nossa. Pois Guled enfrenta desafios que nós conhecemos muito de perto, como o trabalho precarizado e a falta de constância gerada por essa “modalidade” e principalmente a necessidade de um sistema de saúde que ampare de fato os cidadãos.
Porque a luta de Guled é para, sendo coveiro, não ter que
chegar ao momento de ter que enterrar a própria esposa, porém, isso custa
dinheiro e não é pouco. Então, o que você faz? Até que ponto você é capaz de
chegar para conseguir salvar seu amor, que é um símbolo de resistência por si
só – reparem na cena que Guled conta a história para as pessoas, ao mesmo tempo
em que Nasra conta a mesma história para seu filho – as vezes fazemos coisas
das quais nem sabemos que somos capazes.
Como, por exemplo, voltar a falar com pessoas que não vê por
anos, justamente para pedir ajuda para elas, quando essas escolheram te
abandonar no momento em que você toma uma decisão instintiva, com base em um
sentimento o qual você nem sabe o que é, apenas o sente em grande intensidade.
Esse tipo de coisa é uma das várias atitudes tomadas por
Guled para tentar salvar a esposa e todas essas medidas são válidas e
corretas, principalmente se pensarmos que nenhum crime foi cometido, cogitado,
sim, mas não cometido. O personagem principal, que toma broncas da esposa
quando vai a cidade grande pedir dinheiro (mesmo que isso não seja errado) – pois ela não liga para o pouco que
tem, mas quer que seja honesto – decide agir como a sua amada agiria.
Por isso a cena do casamento é tão importante. É nela que
vemos o casal se divertindo, não apenas em paz – porque em paz eles estão a
todo momento – mas sim se divertindo de fato, dançando, rindo e vemos como a
vida não é apenas dominada pelas tristezas, mas também é dominada e controlada
pelos prazeres, mesmo que sejam pequenos, como uma dança em uma festinha
simples, mas de bom gosto.
Guled e Nasra merecem ter mais tempo juntos de diversão e
alegrias, é por isso que ele luta tanto para salva-la, é por isso que o amor
é mais que apenas amar, é estar do lado do outro quando necessário e é pelo
mesmo motivo que “The gravedigger’s wife” é um filme simples, mas eficaz em
mostrar uma luta difícil de maneira bonita e não forçosa sentimentalmente.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Chicago
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