10/18/2021 12:00:00 AM

Chicago Film Festival: The gravedigger's wife

Gravedigger's wife
Imagem: DIVULGAÇÃO

Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Chicago

This critic is part of Chicago Film Festival 2021 coverage

Não dá para saber até que ponto nós iriamos por amor, a não quando chegamos até esse ponto. Se uma pessoa nos move desse jeito, de maneira a não pensarmos quando agimos, é algo a se pensar, isso é, caso se tenha tempo para se pensar nas atitudes que tomamos devido a algo ou a alguém.

Guled não tem esse tempo, tempo para ele é trabalho e mais, tempo para ele é um luxo, pois ele precisa de dinheiro para salvar sua mulher, Nasra, que precisa passar por uma cirurgia urgente ou irá morrer. “The gravedigger’s wife” (em tradução livre, “A esposa do coveiro”), é dirigido por Khadar Ayderus Ahmed e conta essa história, de amor e luta em meio as vilas da Somália.

É nessas vilas onde acontece a ação e é nessa ação que vemos uma rotina conhecida e próxima a nossa. Pois Guled enfrenta desafios que nós conhecemos muito de perto, como o trabalho precarizado e a falta de constância gerada por essa “modalidade” e principalmente a necessidade de um sistema de saúde que ampare de fato os cidadãos.

Porque a luta de Guled é para, sendo coveiro, não ter que chegar ao momento de ter que enterrar a própria esposa, porém, isso custa dinheiro e não é pouco. Então, o que você faz? Até que ponto você é capaz de chegar para conseguir salvar seu amor, que é um símbolo de resistência por si só – reparem na cena que Guled conta a história para as pessoas, ao mesmo tempo em que Nasra conta a mesma história para seu filho – as vezes fazemos coisas das quais nem sabemos que somos capazes.

Como, por exemplo, voltar a falar com pessoas que não vê por anos, justamente para pedir ajuda para elas, quando essas escolheram te abandonar no momento em que você toma uma decisão instintiva, com base em um sentimento o qual você nem sabe o que é, apenas o sente em grande intensidade.

Esse tipo de coisa é uma das várias atitudes tomadas por Guled para tentar salvar a esposa e todas essas medidas são válidas e corretas, principalmente se pensarmos que nenhum crime foi cometido, cogitado, sim, mas não cometido. O personagem principal, que toma broncas da esposa quando vai a cidade grande pedir dinheiro (mesmo que isso não seja errado) – pois ela não liga para o pouco que tem, mas quer que seja honesto – decide agir como a sua amada agiria.

Por isso a cena do casamento é tão importante. É nela que vemos o casal se divertindo, não apenas em paz – porque em paz eles estão a todo momento – mas sim se divertindo de fato, dançando, rindo e vemos como a vida não é apenas dominada pelas tristezas, mas também é dominada e controlada pelos prazeres, mesmo que sejam pequenos, como uma dança em uma festinha simples, mas de bom gosto.

Guled e Nasra merecem ter mais tempo juntos de diversão e alegrias, é por isso que ele luta tanto para salva-la, é por isso que o amor é mais que apenas amar, é estar do lado do outro quando necessário e é pelo mesmo motivo que “The gravedigger’s wife” é um filme simples, mas eficaz em mostrar uma luta difícil de maneira bonita e não forçosa sentimentalmente. 

Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Chicago

This critic is part of Chicago Film Festival 2021 coverage

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