Imagem: DIVULGAÇÃO |
Em dado momento de “Pegando a estrada”, há uma cena em que o
filho mais novo – que deve ter por volta de uns 6, 7 anos – deita-se em cima do
pai e começa a conversar com ele sobre heróis. A relva que os absorve passa a
se transformar em estrelas e assim vemos o céu noturno daquele local, tratado
como destino pela família protagonista do filme.
Não sei até qual ponto a obra de Panah Panahi é de certa
forma uma ferramenta para suprir coisas, relações e conversas, que ele não teve
com seu pai, Jafar Panahi, consagrado diretor iraniano (até porque, não sei da relação dos dois). Também não sei se caso
o filme seja uma ferramenta substitutiva de algo, se o realizador fez isso de
maneira consciente, apenas pode ser uma ideia que eu vi dentro do meu ponto de
vista.
Mas se tem algo que com certeza Panahi fez, foi tratar o passado como algo nebuloso, algo relacionado a passagem de tempo e a como os fundos e planos de nossas vidas mudam. A relva transformada em estrelas na cena citada é apenas um exemplo dos vários presentes no filme, expondo o passado e o motivo que fez a família pegar a estrada como algo misterioso.
Como se a razão da viagem não importasse, o que importa de
fato seria o caminho, por isso faz sentido a utilização de planos mais próximos dos rostos
dos personagens, a intenção é que vejamos exatamente o retratado
ali e o mínimo possível da estrada, das pessoas ao redor, então deixar a câmera
em close é algo funcional para a ideia de efemeridade.
Assim como o fato de não conhecermos aquelas pessoas. Com
exceção da criança falante e cheia de vida, que é quem dá ao público mais
informação sobre a família, o restante dos integrantes são pessoas discretas,
até assustadas com o futuro e acabam por se reservar para si mesmas, como as
estrelas no céu.
Essa discrição é algo que move mais a família do que o carro usado na viagem. Não sabemos o que é mentira e o que é verdade, o pai
de fato está com a perna quebrada? Por que levar um cachorro doente para tão
longe? Porque o filho mais velho tem que ir embora do país, para um destino
desconhecido?
Tudo é nebuloso, menos o afeto entre a família, que se
ilumina assim como as estrelas no céu iluminam as pessoas em uma noite quente.
Por mais que eles tenham problemas e discussões – parte da discrição deles em
relação ao público é construída pela discrição deles em relação a eles mesmos –
vemos claramente o amor ali existente e a viagem representa algo dolorido. A única
certeza, o fato não nebuloso, é que claramente estamos diante de uma separação.
Separação de uma pessoa amada, do seu lar, de um país e aqui vemos uma homenagem do filho ao pai. Jafar Panahi não pode exibir os filmes dele há anos no Irã, não pode filmar e – até onde sei – não pode sair do país para nada. Panah Panahi, faz de sua obra uma viagem sem destino a qual seu pai não faz há anos, faz com que a nevoa se dissipe e que o céu seja dominado pelas estrelas brilhantes da noite, dando a seu pai esperança de um futuro melhor e por agora, talvez seja isso o que todos nós precisamos.
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