Imagem: DIVULGAÇÃO |
É no mínimo interessante e até arriscado, que se faça um
filme de comédia (com cenas de sexo explícito), nos tempos atuais e em um país
conservador como a Romênia. Talvez, Radu Jude já tivesse a ideia desse filme há
tempos e apenas o ano de lançamento veio a calhar com o momento atual e
adaptações foram feitas, mas, ainda assim, é interessante.
“Bad luck banging or loony porn” acompanha Emilia, uma
professora de história que teve um vídeo de sexo com seu marido publicado na
internet. Esse vídeo chega nos pais de seus alunos que exigem uma reunião para
decidir se a demitem da escola ou não. O filme se desenrola em torno desse
vídeo e da sociedade atual, usando a pandemia como um de seus temas.
Fica clara a intenção de Jude em contar uma história que faz
uma crítica, usando a comédia como ferramenta, à sociedade romena. Seja através
da rotina de Emilia – que acompanhamos na primeira parte das três do filme -,
ou usando o segundo ato, que é basicamente um dicionário com termos
relacionados a história do país ou com palavras que o diretor acha engraçadas.
Através de imagens de arquivo e vídeos de celular, esse ato
do filme é o mais interessante e é onde vemos a ideia de Jude de fato funcionar,
ou melhor, “funcionar”, porque não dá para saber o que é ironia e o que é sério
dentro das explicações dos termos não históricos e tem coisas que as pessoas podem
achar de mal gosto ou desnecessárias para a obra.
Mas, ainda assim, é melhor esse ato do que os outros dois. O
primeiro ato (que começa após vermos o vídeo vazado integralmente) é a rotina
de Emilia, que percebemos ter mudado completamente depois do ocorrido e o
terceiro ato é a reunião de pais na escola, onde vemos um retrato daquela
sociedade, que é muito próxima a sociedade brasileira.
Há todos os tipos de pessoas naquela reunião, inclusive o
espectador é capaz de prever o comportamento das pessoas em relação a postura
deles caso eles fossem brasileiros e não romenos. Ou seja, vemos que o
pensamento atual que domina muitas das bolhas sociais são mundiais e não ocorrem
apenas aqui, o que torna tudo mais sério.
Por ser um aspecto sério, não sei até que ponto o timing foi
bom para lançar um filme de comédia que aborda isso. Nada daquilo é engraçado,
uma mulher teve a privacidade violada e a reunião serve mais como humilhação
pública do que qualquer outra coisa, as pessoas representadas ali existem no
nosso dia a dia e fazem parte de tudo o que está acontecendo e a comédia não
acrescenta em nada ao filme a não ser um riso envergonhado quando a obra acaba.
Falar no final da projeção que “o filme é uma piada” é
necessário ao mesmo tempo que é um paliativo para possíveis reações negativas
que a obra terá no futuro. Esse pensamento também se encaixa nos três finais
que a obra apresenta (isso não é spoiler). Se o timing foi errado é algo que
apenas saberemos no futuro, mas, talvez nem tenhamos futuro, o jeito é pensar
no agora.
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