Imagem: DIVULGAÇÃO |
“Jane B. por Agnes V.” deve ter sido terapêutico para Birkin
de certa maneira, levando em consideração que ela fala para Varda coisas que,
imagino, ela queria falar para a filha dela naquele momento, mas Charlotte nem
daria a atenção devida, não por maldade ou algo assim, mas sim pela tenra
idade, o momento certo não era aquele.
Com certeza a agora adulta Charlotte Gainsbourg assistiu ao documentário de 88 e talvez tenha se sentido inspirada a fazer o seu próprio documentário. “Jane por Charlotte”, para poder falar de sua mãe e dela mesma para sua filhinha, que aparece em vários momentos do filme junto com as duas.
Gainsbourg assume uma estrutura similar a de Varda em 88, enquadrando
a mãe como a modelo (que foi), para fazer ela se sentir mais confortável em
contar coisas de sua vida que provavelmente, Charlotte apenas soube nas
filmagens. Birkin recebeu a chance de falar o que queria ter dito para a filha
em 88 e a aproveitou com maestria.
Até porque acho difícil que antes desse documentário, Gainsbourg tenha escutado a sua mãe falar sobre luto, sobre ansiedades que teve quando a filha era pequena e provavelmente isso pode inspirar Charlotte na relação com a própria filha, da mesma maneira que Birkin foi, consciente ou inconscientemente, influenciada por Varda quando esta relata o relacionamento com seus filhos, Mathieu e Rosalie.
Acredito que “Jane por Charlotte” sirva de sequência, mesmo
que indireta, a “Jane B. por Agnes V.”, pois vemos a mesma Jane Birkin com
dúvidas diferentes e questionamentos diferentes sobre a vida, mas ainda com a
mesma vontade de viver se comparada em relação ao documentário de Varda.
Se em 88, seu casamento com Serge Gainsbourg foi um tópico muito
abordado, devido as inseguranças de Birkin em relação a seu corpo – em dado
momento, ela diz que fica surpresa quando Serge não se importava com o corpo
dela, pois os homens em geral se importam com corpos de um padrão determinado
que ela não segue – em 2021, vemos uma Jane Birkin completamente segura em
relação a isso.
Ela anda com absoluta segurança, atende aos posicionamentos
da filha com prazer e naturalidade, além de se apresentar em shows com uma elegância que apenas uma pessoa segura de si tem. Se vermos os dois
documentários seguidos um do outro, a mudança é visível e que bom que é,
pessoas mudam o tempo inteiro, mesmo que elas nem se deem conta disso.
Até porque vivemos em um mundo imediatista e se “Jane por
Charlotte” mostra algo é como o tempo e a vida de cada um é relativo e como o
sucesso pode vir mesmo depois de uma certa idade. Charlotte Gainsbourg teve a
sorte de ver isso quando acontecia com a sua mãe, parece simples mas é bem
bonito.
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