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Imagem: DIVULGAÇÃO |
Lembrei dessa fala de Apichatpong Weerasethakul, no documentário
“Flowers of taipei” quando assistia ao novo trabalho do diretor tailandês, “Memória”.
Enquanto Jéssica (Tilda Swinton), bióloga, andava pela Colômbia em busca de uma
série de coisas, da origem de um som que não a deixa dormir e de amizades para se distrair enquanto cuida da irmã.
Isso aconteceu porque na sessão na qual eu estava, várias
pessoas dormiram durante o filme, acordaram e continuaram assistindo como se
nada tivesse acontecido. Esse estado de relaxamento citado pelo diretor na fala
e que essas pessoas atingiram, é algo que, imagino, Apichatpong não veria como
algo ruim, na verdade, pelo contrário, talvez ele considerasse um elogio que um
filme dele gerou isso em uma pessoa.
“Memória” é relaxante, pois nunca nos preocupamos com o que está acontecendo na tela, apenas pensamos em nós mesmos e em nos sentimentos que o filme gera em nós durante suas mais de duas horas de projeção. Com certeza, esses sentimentos serão diferentes em cada um de nós, mesmo com as cenas sendo iguais para todos, como a cena do jantar ou a linda cena no estúdio de som.
Apenas posso falar do meu caso. Ao ver as andanças de
Jessica e a busca incessante dela por paz, fiquei próximo do estado de sono
citado acima, não por tédio, mas sim porque aquilo me relaxou de uma forma que
não esperava. O fato de a protagonista estar sempre em busca de algo e nem
sempre ela se lembra desse algo é uma coisa impactante.
Não visualmente falando, mas filosoficamente falando. As
pessoas em geral estão sempre em busca de algo mesmo que não saibam exatamente o que é.
O som estrondoso apenas escutado pela protagonista é a vontade dela
desse algo, nem sempre a nossa vontade vai ser revelada da mesma forma, mas com
certeza, há um sinal dentro de nós que assim como esse som, representa a
determinação em busca do autoconhecimento.
Por isso fiquei surpreso quando, na sessão que estava, vi
algumas pessoas saindo antes do filme chegar a metade. Claro, ninguém é obrigado
a gostar de filme nenhum e nem assistir a obra até o final (por mais que seja
contra esse último ponto), mas, ao meu ver, se há um estado de relaxamento como
dito pelo próprio diretor, também há um estado de assombro e esse leva as
pessoas a saírem da sala antes de o filme acabar.
O assombro pode ser visto em certas cenas, como a da conversa com a arqueóloga ou na cena mais próxima ao final do filme, quando Hernán (uma das amizades de Jessica) fala para a protagonista que não consume nenhum tipo de conteúdo, seja filmes, música, televisão e muito menos internet, apenas para não criar expectativas com base em distrações inúteis.
Muitas vezes, imagino, esse assombro não é devido ao filme e nem as cenas citadas acima como exemplo,
mas é devido a aquilo que o filme gera em você e nem sempre isso é bom. Como
alguém que vê muitos filmes, não posso dizer que todos eles causaram em mim algo
legal ou me deixaram algo de útil dentro de mim. Porém, todos me deixaram algo
e “Memória” me fez lembrar de como é possível relaxar mesmo em meio ao caos
interior.
Em dado momento do mesmo documentário, “Flowers of taipei”,
Apichatpong diz que “Filmes são memória”. De fato, filmes, assim como a arte em
si, são memória e “Memória” pode ter tido origem dentro do diretor a partir
dessa ideia. Com certeza, irei me lembrar desse filme devido ao estado de
relaxamento, quase pleno e total, que me gerou, ao mesmo tempo em que desejei
isso para Jessica, fiquei aliviado de perceber que ainda sou capaz de relaxar e
isso foi minimamente gratificante.
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