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“Você atingiu o auge da mediocridade”, essa frase de Rodolfo
Gucci, interpretado por Jeremy Irons em “Casa Gucci”, dita para o sobrinho
Paolo (Jared Leto), é uma frase muito significativa, tanto para o filme, quanto
para o personagem a qual o dizer se destina e a cena mostra uma das melhores
coisas da obra, a atuação de Irons.
Dirigido por Ridley Scott, “Casa Gucci” é uma mistura de
várias coisas e obras que fazem o espectador pensar que esse mix não faz muito
sentido, por mais que o filme tenha uma ideia clara de contar uma história
sobre ascensão e luta pelo poder. Concentrado na figura de Patrizia Reggiani
(Lady Gaga), acompanhamos a história desta quando ela se apaixona (e casa) com
Maurizio Gucci (Adam Driver), herdeiro da empresa de roupas que leva o
sobrenome de sua família.
As ideias de ambição, ganância e constante luta pelo poder são esquecidas constantemente, devido a direção automática de Scott, que parece querer que seu filme seja algo parecido a um episódio ruim de “Casamento as cegas” cujos participantes são o Marshall da série “How i met your mother” quando este finge saber italiano fluentemente.
Os planos são na maioria das vezes fechados e levando em consideração
os figurinos e os locais onde a história se passa, talvez essa decisão tenha
sido equivocada. Provavelmente, por estarmos falando de um filme em que a moda
e a história de uma de suas maiores dinastias são primordiais, mostrar as roupas, bolsas e as
pessoas que as usam, poderia ser algo interessante.
Claro, o objetivo é outro, mas as ferramentas para se
atingir isso poderiam ser mais atrativas e o citado acima faz parte de um
leque de escolhas e possibilidades a se trabalhar. Ao invés disso, vemos um
filme inteiramente baseado na força de seu elenco, estrelado, sim, que faz da
história contada um bom entretenimento, mas nada além disso.
Se, como dito no primeiro parágrafo, uma das coisas boas do
filme é Jeremy Irons, a outra coisa boa é Al Pacino. Seu trabalho como Aldo Gucci
(irmão de Rodolfo, tio de Maurizio) oscila bem entre o divertido, o ambicioso e
o não se levar a sério por saber estar em uma obra que aparentemente não leva
seu bom elenco a sério.
Fora Irons e Pacino, o restante dos atores apenas
decora falas e as diz em frente a câmera, com exceção de Lady Gaga – que faz
isso desde “Nasce uma Estrela”. O potencial de Adam Driver é desperdiçado, o
de Jared Leto também (talvez usar “potencial” aqui seja exagero), mas quando se
tem gente de calibre e com muita coisa a oferecer, é bom aproveitar isso para
passar suas ideias.
São ideias interessantes e por isso o espectador fica no
filme, ora, uma mulher comum, que trabalha na pequena empresa do pai, conhece
um homem extremamente rico, se apaixona e faz de tudo para além de se envolver
nos negócios, fazer parte daquela família de maneira ativa. Não à toa Patrizia assume
o sobrenome Gucci com um orgulho fora do comum, isso é uma pequena parcela do que sabemos desse
sentimento, o que acontece por dedução e não por atuação.
É triste ver uma história com tamanho potencial sendo
tratada assim. Há muitas vezes no cinema, extremos do que um filme nos faz
sentir como espectadores, ou o filme pode ser muito ruim, o que pode levar a
pessoa a ficar com raiva de ter visto, sensação de tempo perdido, ou o filme
pode ser muito bom e fazer o público se sentir contemplado de alguma forma:
comovido, feliz, ter se divertido, ou algo assim.
No meio disso há o filme que não é ruim e nem é bom, mas ele
não faz o público sentir nada, absolutamente nada. Uma obra de arte que te
deixa indiferente talvez seja o pior tipo de obra, porque logo ela vai ser
esquecida, é apenas mais um filme, mais um quadro, mais uma série de televisão,
não pela qualidade, mas por não gerar sentimento algum e infelizmente “Casa Gucci”
é um desses casos.
A única coisa que eu, dentro da minha experiência, senti nesse filme foi alívio quando suas 2h40 terminaram. Isso não é bom, isso é triste. Sempre procuro gostar das coisas que vejo, ver um filme que me faça sentir algo. “Casa Gucci” é um filme automático, com potencial desperdiçado, elenco estrelado e muito provavelmente ouviremos falar dele na época de Oscar e apenas nessa época.
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