11/23/2021 08:30:00 PM

Crítica: Casa Gucci

Casa Gucci
Imagem: DIVULGAÇÃO

“Você atingiu o auge da mediocridade”, essa frase de Rodolfo Gucci, interpretado por Jeremy Irons em “Casa Gucci”, dita para o sobrinho Paolo (Jared Leto), é uma frase muito significativa, tanto para o filme, quanto para o personagem a qual o dizer se destina e a cena mostra uma das melhores coisas da obra, a atuação de Irons.

Dirigido por Ridley Scott, “Casa Gucci” é uma mistura de várias coisas e obras que fazem o espectador pensar que esse mix não faz muito sentido, por mais que o filme tenha uma ideia clara de contar uma história sobre ascensão e luta pelo poder. Concentrado na figura de Patrizia Reggiani (Lady Gaga), acompanhamos a história desta quando ela se apaixona (e casa) com Maurizio Gucci (Adam Driver), herdeiro da empresa de roupas que leva o sobrenome de sua família.

As ideias de ambição, ganância e constante luta pelo poder são esquecidas constantemente, devido a direção automática de Scott, que parece querer que seu filme seja algo parecido a um episódio ruim de “Casamento as cegas” cujos participantes são o Marshall da série “How i met your mother” quando este finge saber italiano fluentemente.

Os planos são na maioria das vezes fechados e levando em consideração os figurinos e os locais onde a história se passa, talvez essa decisão tenha sido equivocada. Provavelmente, por estarmos falando de um filme em que a moda e a história de uma de suas maiores dinastias são primordiais, mostrar as roupas, bolsas e as pessoas que as usam, poderia ser algo interessante.

Claro, o objetivo é outro, mas as ferramentas para se atingir isso poderiam ser mais atrativas e o citado acima faz parte de um leque de escolhas e possibilidades a se trabalhar. Ao invés disso, vemos um filme inteiramente baseado na força de seu elenco, estrelado, sim, que faz da história contada um bom entretenimento, mas nada além disso.

Se, como dito no primeiro parágrafo, uma das coisas boas do filme é Jeremy Irons, a outra coisa boa é Al Pacino. Seu trabalho como Aldo Gucci (irmão de Rodolfo, tio de Maurizio) oscila bem entre o divertido, o ambicioso e o não se levar a sério por saber estar em uma obra que aparentemente não leva seu bom elenco a sério.

Fora Irons e Pacino, o restante dos atores apenas decora falas e as diz em frente a câmera, com exceção de Lady Gaga – que faz isso desde “Nasce uma Estrela”. O potencial de Adam Driver é desperdiçado, o de Jared Leto também (talvez usar “potencial” aqui seja exagero), mas quando se tem gente de calibre e com muita coisa a oferecer, é bom aproveitar isso para passar suas ideias.

São ideias interessantes e por isso o espectador fica no filme, ora, uma mulher comum, que trabalha na pequena empresa do pai, conhece um homem extremamente rico, se apaixona e faz de tudo para além de se envolver nos negócios, fazer parte daquela família de maneira ativa. Não à toa Patrizia assume o sobrenome Gucci com um orgulho fora do comum, isso é uma pequena parcela do que sabemos desse sentimento, o que acontece por dedução e não por atuação.

É triste ver uma história com tamanho potencial sendo tratada assim. Há muitas vezes no cinema, extremos do que um filme nos faz sentir como espectadores, ou o filme pode ser muito ruim, o que pode levar a pessoa a ficar com raiva de ter visto, sensação de tempo perdido, ou o filme pode ser muito bom e fazer o público se sentir contemplado de alguma forma: comovido, feliz, ter se divertido, ou algo assim.

No meio disso há o filme que não é ruim e nem é bom, mas ele não faz o público sentir nada, absolutamente nada. Uma obra de arte que te deixa indiferente talvez seja o pior tipo de obra, porque logo ela vai ser esquecida, é apenas mais um filme, mais um quadro, mais uma série de televisão, não pela qualidade, mas por não gerar sentimento algum e infelizmente “Casa Gucci” é um desses casos.

A única coisa que eu, dentro da minha experiência, senti nesse filme foi alívio quando suas 2h40 terminaram. Isso não é bom, isso é triste. Sempre procuro gostar das coisas que vejo, ver um filme que me faça sentir algo. “Casa Gucci” é um filme automático, com potencial desperdiçado, elenco estrelado e muito provavelmente ouviremos falar dele na época de Oscar e apenas nessa época.

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