Imagem: DIVULGAÇÃO |
Lana Wachowski precisou de um recomeço e o encontrou na
arte. O que vemos nesse filme é não apenas uma ressureição no título, mas dois
personagens que ajudaram a diretora a lembrar que existe vida fora da tristeza,
tem amor, há esperança e algo no qual podemos nos agarrar.
Acompanhamos esses dois personagens, Neo (Keanu Reeves) e Trinity (Carrie-Anne Moss) em uma Matrix ordenada até demais, onde Neo é Thomas Anderson (seu nome antes da pílula vermelha e trabalha como criador de jogos e Trinity é Tiffany, uma mulher comum vivendo na cidade grande. Neo está sempre em questionamento consigo mesmo, até que um erro em um programa, causado por Bugs (Jessica Henwick), faz ele entrar novamente no mundo real e o redescobrir.
“Redescobrir” porque ele escolheu recomeçar de maneira
diferente, se afogando, de certa forma, na tristeza, após o final de "Matrix
Revolutions". Tomando a pílula azul constantemente, ele passa a viver na
simulação e na tristeza, como se a vida fosse aquilo e exclusivamente aquilo.
Wachowski trabalha isso não através da melancolia, mas sim
através da parodia (principalmente na primeira hora), onde vemos coisas
relacionadas aos outros filmes, citados inclusive pelos personagens novos,
através das piadas, “Matrix foi feito para agradar crianças”, como se fosse Wes Craven dirigindo um filme de ação.
A diretora não tem medo de assumir a fantasia que move
Matrix e transmite as ideias que ela (e Lilly até o filme 3) criaram para o
público. Talvez por isso tenhamos a impressão de vermos um filme completamente
diferente na segunda hora, mas na verdade, estamos apenas vendo Lana Wachowski
ser Lana Wachowski, ou seja, vemos o sentimento e a valorização dele dentro do
recomeço buscado pela diretora e por seu protagonista.
Eles buscam o amor, a lembrança do amor, a ressureição do
amor, a salvação de si mesmo dentro desse sentimento tão belo e ao mesmo tempo
tão complexo. As cenas de ação, coloridas como as de Matrix costumam ser (por
mais que menos do que nos filmes anteriores), são lutas não apenas lindas
visualmente, mas também representam o amor que cada um daqueles personagens
busca.
Morpheus (Yahya Abdul-Mateen II), mantem sua crença e amor
pelo Escolhido, o sócio de Neo na simulação (Jonathan Groff), luta pelo amor
por si mesmo, Bugs briga para expressar seu amor, sua fé, não apenas em relação
a Neo, mas também em relação as escolhas criadas por aquele mundo e Neo luta
por Trinity.
Foi Trinity que acreditou em Neo nos momentos complicados,
ele não acreditava ser o que é, ela sim, ele não pensava que fosse capaz de
unir e conciliar humanos e máquinas, ela nunca duvidou. Os pais de Lana e Lilly
Wachowski, com certeza acreditaram nas filhas em cada trabalho, cada projeto,
cada coisinha que elas faziam. Essa crença do outro em você é o motor de
nossas vidas, precisamos que alguém acredite na gente, nos bons e maus
momentos.
Por isso que Neo decide recomeçar, nunca foi por ele, sempre
foi por Trinity, o público sabe disso, sentimos isso em cada piada, em cada
ironia ao que o mundo se tornou – “você trouxe a merda do Facebook e a porra da
Wiki, porque?” – diz um certo personagem em dado momento e nós sabemos o porquê,
porque se faz o necessário por quem se ama e por quem acredita em você, não
importa o sacrifício.
Em geral, recomeçar é sacrificante e penoso, você se
desafia, constantemente, você se força. Neo se forçou a rever coisas e pessoas
que ele não queria, mesmo numa roupagem nova. Lana Wachowski, me colocando no
lugar dela em relação a perda dos pais, deve ter se forçado a rever o mundo com
outros olhos e sem duas das pessoas que mais ama ao seu lado. A vida é um
desafio, sempre.
A plasticidade das cenas vem em um momento no qual esse
tipo de coisa não é exatamente bem-vinda em um blockbuster. Não apenas porque,
como já dito, elas são coloridas, elas entretêm, fazem com que o público se
envolva e fique empolgado, se arrepie, da mesma maneira que em outras cenas nos emocionamos e até choramos porque nos colocamos naquele renascimento, mas
porque essas cenas têm em si, a ideia do recomeço e hoje em dia ideias não são
bem-vindas.
Felizmente, Lana Wachowski acreditou em si mesma, no amor
que sente pelos seus pais, no amor que Neo e Trinity deram a ela e isso a fez
recomeçar. Ela precisava lembrar, provavelmente (quem sou eu para assumir algo
assim), o que a fazia sentir tesão pelas coisas, o que a fazia sentir vontade
de fazer cinema, assim como eu, no início desse ano, precisei me lembrar do que
me fazia sentir vontade de escrever.
Eu escrevo porque meus pais me leem. Provavelmente, Lana
Wachowski começou a fazer cinema porque os pais dela assistiam aos filmes dela
e de sua irmã. E se “o amor é a gênese de tudo”, como vemos nos créditos de
“Matrix Resurrections”, nada mais bonito e desafiador do que recomeçar usando a
sua origem como ponto de partida.
Esse filme foi o mais esclarecedor de todos. As referências aos filmes anteriores são fundamentais e a crítica específica o contexto.
ResponderExcluirGostei muito 👋🏾👋🏾👋🏾👋🏾