I
Enquanto eu assistia “Jurassic World: Domínio” o aparente
último capítulo da famosa franquia de dinossauros, eu pensei constantemente em
como esse filme e todos os outros da saga não foram feitos para mim. Eu odeio
isso, não existe tal coisa de “filmes feitos para mim”, não existe arte sob
medida, mas infelizmente, o pensamento se adequa perfeitamente dentro de mim.
As 2h27 se desenrolaram e eu achei injusto escrever uma
crítica de fato, pois uma crítica negativa de um filme que eu não gostei e que
eu claramente não sou o público-alvo é algo que apenas afastaria as pessoas do
cinema e talvez da arte em geral. Eu não quero desenvolver tal afastamento.
O ideal é que a arte seja ponte e não um muro, mais ideal
ainda é quando se tem acesso a ela desde cedo – impossível no Brasil atual. Não
importa a forma artística a qual se consuma, ela ajuda no desenvolvimento e crescimento
de uma pessoa, por isso que é impossível ter coisas “feitas para mim”.
II
Para outra pessoa, filmes como este podem funcionar e no
caso, o foco é naqueles que eu acho que sejam o público-alvo: crianças. Quando
eu revi todos os filmes como preparação para esse último, eu achei a maioria
(com exceção do primeiro) chatos, porque eles eram direcionados a crianças que
são, em geral, quem costuma gostar de dinossauros.
Então faz sentido um adulto não gostar e no caso dos que gostam,
eles gostarem por nostalgia e não porque o filme é de fato bom, ele apenas
lembra coisas boas. O que deveria ser mais importante para decidirmos se
gostamos ou não de algo, é como esse algo nos toca, o que nos faz sentir, o gatilho sentimental causado em nós pela obra.
No meu caso o sentimento foi de saudade. Sempre joguei
videogame e após ter trocado do ps2 para Xbox 360 uns anos atrás, os jogos que
adaptavam filmes e/ou quadrinhos para aventuras em lego sempre me atraíram.
Alguns jogos baseados em filmes são bem chatos (assim como o material
original), mas outros são muito divertidos, os do Jurassic Park são os mais
legais.
Passei todos os minutos de todos os filmes lembrando das
fases e do que era necessário fazer para passá-las e em como era divertido
jogar. Os jogos de lego são muito mais legais de jogar em dois jogadores, pois
as fases ficam mais fáceis devido as funções e tarefas que cada um pode fazer
controlando seu personagem.
Em jogos de lego, há uma série de tarefas dentro das fases
que precisam ser cumpridas, para adultos é algo meio bobo e até automático,
para crianças é um aprendizado ingênuo e fofinho. Os objetivos para passar de fase envolvem montar coisas
com base nas peças que aparecem quanto mais o cenário é destruído, peças que
viram chaves, armas e coisas diversas que ajudam a seguir em frente no jogo.
Lembrei do quanto eu era feliz jogando esses jogos no Ps2
quando pequeno e o quanto eles me fizeram lembrar de coisas depois de adulto
jogando no xbox 360. É estranho pensar que o fato de eu ainda gostar desses
jogos é justamente pela nostalgia que eles me trazem, assim como disse que
ocorre com os fãs adultos da franquia Jurassic Park.
Acredito que a nostalgia atinge as pessoas de maneira
diferente, se no caso de muitos são esses filmes novos originados de clássicos
dos anos 80 ou 90, para outros são esses jogos em lego. Não importa o que seja,
o importante é o que se sente e o que se identifica dentro de si mesmo quando
algo assim acontece.
No caso de “Jurassic World: Domínio”, como não joguei o jogo
em lego (e nem irei provavelmente), eu adaptei em mim mesmo o relembrar das
fases dos filmes passados para o imaginar como seriam as fases desse filme novo
e isso fez da minha experiência um pouco melhor, não foi nada demais, nada que
transformasse o filme dentro de mim, mas ao menos serviu como uma boa distração
depois de uma semana difícil.
Foi fácil imaginar como as fases do novo filme funcionariam
dentro desse universo de jogos infantis, pois a lembrança está muito viva em
mim. Imaginei que em alguns momentos do jogo, teria que quebrar o cenário todo
em busca de peças para montar, em outros, teria que jogar com o personagem
capaz de pular mais alto e abrir a porta para o outro acionando o botão.
E principalmente, que independente da fase e do momento do
filme, seria muito mais legal jogar com alguém.
Lembranças são uma máquina do tempo pessoal, onde cada um de
nós volta dentro de nós mesmos para momentos que não viveremos mais e tentamos
recriar constantemente, com outras pessoas, com experiências parecidas, nos
enganando o tempo todo que seremos capazes de voltar a lembrança, quando na
verdade, estamos criando novas lembranças e alimentando cada vez mais a nossa máquina
particular.
Então foi inevitável isso não voltar dentro de mim e não lembrar de jogos que zerei sozinho. Como disse acima era muito mais legal jogar acompanhado, hoje ter essa companhia de alguém para jogar é impossível, não apenas por trajetórias e mudanças de vida, mas também porque não tenho mais o videogame.
Às vezes é bom voltar no tempo, mesmo que seja com
lembranças que em algum momento foram bons dias concretos e hoje em dia são
apenas devaneios de algo finalizado que buscamos recriar assim como cozinheiros
amadores tentam recriar pratos no Masterchef. O ruim é quando o filme acaba e
você tem que esquecer disso novamente. Uso o texto para despejar isso e a única
coisa que pode ficar dessa experiência é a saudade de ter um videogame
relativamente novo para jogos mais atuais.
Como diria Elena Ferrante “Para escrever é preciso desejar
que algo sobreviva a você”, infelizmente eu descobri que ainda tinha essas
lembranças dentro de mim e se por um lado é bom lembrá-las e refletir sobre
elas para melhorar como pessoa, por outro eu completo a citação de Ferrante,
“Já eu não tenho nem mesmo a vontade de viver, nunca a tive tão forte quanto
você. Se pudesse me apagar agora, enquanto estamos falando, ficaria mais que
contente. Imagine se vou começar a escrever.” É, imagine se vou começar a
lembrar.
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