Imagem: DIVULGAÇÃO |
Com certeza há Brasil no barco que leva Dom Pedro I para
Portugal, devido a uma guerra com seu irmão Miguel, em “A Viagem de Pedro”,
novo filme dirigido por Laís Bodanzky. Digo Brasil não apenas por ter brasileiros no
barco, mas sim como formação identitária de um país recentemente independente
em 1831, ano no qual a obra se passa.
Membros da formação da identidade do país estão ali. Negros
escravos vindos da África, europeus – portugueses e britânicos – que chegaram
ao país com a intenção de explora-lo e claro seu imperador, Dom Pedro I (aqui
interpretado por Cauã Reymond), que de certa forma, por morar no Brasil desde
pequeno, se torna uma união de seu país de origem com o seu país de morada.
O que vemos nessa viagem, é uma exploração pela mente de Dom Pedro I, tanto através de seus delírios de grandeza, quanto devido a problemas pessoais e familiares que o formaram como pessoa. Em relação aos problemas pessoais, vemos como o seu passado o afetou claramente dentro de sua atual trajetória.
“Como é que eu vou ganhar uma guerra de pau mole?”, essa
frase é o resumo da pessoa que é Dom Pedro I e de seus problemas pessoais. O
principal problema dele no filme é ser brocha e isso o faz se questionar
constantemente em relação a sua masculinidade, a qual ele tenta reafirmar de
forma continua através de sua agressividade desnecessária disfarçada de
acessibilidade.
Vemos isso em duas cenas de forma bem especifica, uma é quando
ele conhece o Chef (Sergio Laurentino) e fica incomodado quando o homem negro e
livre do Benin não dá a mínima para ele e a outra cena é quando ele interrompe
uma conversa entre escravos para pedir que um deles conte algo engraçado.
Nessas duas cenas vemos comportamentos que a mãe de Dom
Pedro, Carlota Joaquina teve com seus filhos – que nós assistimos através de
flashbacks – e descobrimos o problema familiar que domina a vida adulta do
imperador, a falta de aproximação com a mãe e como ela sempre está presente em
sua vida.
Com isso posto, vemos que a ideia de “A Viagem de Pedro” é
menos antropológica do que pensaríamos no inicio do filme, a intenção é fazer
uma analise profunda do imperador do país naquela época. Se por um lado isso é
bom, pois serve como uma desmistificação de uma figura colonizadora, por outro
lado, isso é visto em tela de maneira experimental demais.
Através de flashbacks vemos o que saberíamos de qualquer
forma apenas nas cenas no barco. Que Pedro é um homem que se importa mais com o
próprio pau do que com a vida propriamente dita e com o legado que deixará. O
fantasma que o assombra não é de sua mãe, o de sua primeira esposa e nem o de uma
de suas amantes, quem o assombra é a grandeza e a ilusão de que é algo maior do
que é.
No terceiro ato vemos o filme querer se tornar algo maior do
que é, pois é onde o experimentalismo ganha mais força e até mesmo esquecemos
dos motivos pelos quais todas aquelas pessoas estão presentes naquele barco,
que é o ponto de partida do filme e onde a maioria da história se passa.
Mas não esquecemos uma coisa: que o imperador do Brasil por
muito tempo era brocha e tinha delírios de grandeza nunca alcançados devido a
uma série de incapacidades e fatos. Isso não tem nada a ver com os problemas
maternais que tinha, mas tem a ver com a pessoa de Dom Pedro I.
Não sei se agora, “A Viagem de Pedro” é um filme de fato bom, mas também não o considero ruim, o considero reflexivo e após escrever esse texto venho a pensar que a obra talvez possa ficar melhor na medida que o tempo passa e não seja um filme que queira mais ser do que é (como eu, sinceramente, achei nesse primeiro momento), porém, o filme melhorando ou não no futuro, ele sempre será a história da viagem de um imperador brocha.
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