9/04/2022 01:01:00 PM

Crítica: A luta de uma vida

A luta de uma vida
Imagem: Diamond Films
Barry Levinson é um diretor bom em contar histórias. O diretor de “Rain Man” e “Bom dia, Vietnã”, consegue fazer com que personagens no mínimo difíceis sejam palatáveis ou ao menos façam o público pensar em suas próprias contradições.

Então, não é exatamente uma surpresa o personagem de Ben Foster em "A luta de uma vida" ser contraditório mas real. Harry é um homem que carrega em si o trauma de Auschwitz, pois é um judeu sobrevivente do campo de concentração com mais pessoas aprisionadas na segunda guerra mundial. Boxeador, ele precisa lidar com o trauma do passado para conseguir seguir em frente.

O filme se divide em duas partes bem diferentes uma da outra. Com duração de 2h10, metade disso é dedicada à carreira de Harry no boxe, a outra metade trata de seu casamento e sua relação com a esposa Miriam (Vicky Krieps) e os filhos pequenos.

Por mais que seja relevante dentro da vida de Harry, o boxe não é apenas um esporte ou uma profissão para ele, é um gatilho relacionado a guerra, pois o esporte foi uma das formas de tortura que Harry sofreu durante seu tempo preso no campo de concentração.

Talvez por isso ou devido a uma certa tradicionalidade na maneira de contar essa primeira parte da história, o filme só ganha força de fato na segunda parte, da metade para a frente, onde vemos a vida de Harry com sua família.

Ele se tornou um marido e pai ruins. Não apenas devido ao trauma, mas também devido ao seu comportamento de não falar o que está sentindo, seja sobre o seu passado ou não, com as pessoas que o amam, principalmente o filho mais velho, que já tem idade para entender o que aconteceu.

Se vemos isso, é devido a atuação de Ben Foster. Um ator inteligente, que com a maquiagem pesada no rosto, decide por não ser melodramático, mas sim, contido. O caminho introspectivo que o ator toma é importante para que o personagem funcione como protagonista.

Do outro lado, também é importante falar de Vicky Krieps, que é o contraponto adequado para o personagem de Foster. Não apenas por ser a esposa dele, mas sim por encarar a vida de maneira diferente como pessoa. Miriam é mais extrovertida que Harry, além de enxergar a vida de outra forma, ela também entende a importância de falar o que se sente de uma forma que não machuque as pessoas.

Na segunda parte, vemos a ideia do filme de abordar o transtorno pós traumático e temos uma obra interessante, bem trabalhada e articulada, sobre sentimentos. Talvez a luta da vida de Harry seja aprender a compartilhar e nesse ponto, nós, espectadores, temos muito em comum com o personagem interpretado por Ben Foster.

Com isso, Levinson constrói um filme com boas ideias, mas que nunca se torna aquilo que poderia ser. Não é ruim, longe disso, mas poderia ser uma obra muito mais forte caso ele seguisse o ritmo que vemos na segunda metade, focar nas pessoas e nos sentimentos delas.

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