9/14/2022 09:00:00 PM

Crítica: Moonage Daydream

Moonage Daydream
Imagem: DIVULGAÇÃO

Muitas vezes eu me pego pensando que adoraria ir em um show de um artista que já morreu. Prince, Marvin Gaye, por exemplo. David Bowie é provavelmente o nome que encabeça essa lista de artistas que adoraria ver ao vivo. Ver as apresentações através de vídeos no YouTube é bom, mas não é a mesma coisa que uma experiência vivida no ambiente próprio.

“Moonage Daydream” de Brett Morgen é alto. É tão alto que me fez parecer que estava em um show, então o filme me fez realizar um pequeno sonho, eu diria, ir a um show de David Bowie. Um show de 2h15, com muita cor, luz e música, assim como deve ser uma apresentação musical.

Talvez por causa desse sonho, mas também devido a capacidade de imersão do filme, foi muito fácil assistir, parecia que eu estava ali, vivo naquela época, assim como os fãs que Morgen mostra com tanto carinho durante a viagem que ele propõe.

Digo viagem porque, da mesma forma que Bowie mudava a cada álbum, não apenas em aparência, mas também em relação a cidade (ele se mudava constantemente). Isso faz com que o espectador viaje junto com o cantor durante o documentário, como em uma odisseia espacial, já diria uma das músicas mais conhecidas.

Ao estar em um show há toda uma preparação. O antes de ir, a roupa que você vai usar e claro, as músicas que você quer ouvir. Então, meu sonho ficou completo, quando, ao final da “apresentação” eu percebi que as músicas que eu mais gosto tinham sido tocadas, não apenas por isso, mas também porque elas estruturam tudo aquilo.

Se Bowie mudava a cada vez que novos álbuns eram lançados, a vida no mundo e os pensamentos das pessoas também seguiam esse fluxo. Então nada mais justo que viajarmos dentro desse show tendo como guia as músicas dele e não uma estrutura fixa ou tradicional. Quem comanda tudo é o objeto que fez o cantor famoso e não um corte ou outro tipo de ferramenta.

Até porque, quem comanda tudo dentro da obra de arte (não na sua produção, que aí é outra conversa) é a própria obra de arte, o que ela nos faz sentir, nos faz pensar, nos faz relembrar. E o filme te leva a muita coisa, mas principalmente a viajar, como já dito e cada uma dessas viagens é particular.

Eu lembrei de quando comecei a gostar de música e que foram as músicas do Bowie que me fizeram descobrir um novo mundo e nesse mundo havia certa esperança e otimismo, sensações com as quais não estou acostumado até hoje. Lembrei que o descobri em um momento ruim, que de certa forma serviu para pautar minha personalidade, que na maioria das vezes é bem solitária, mas não exatamente má. Essas músicas fizeram com que eu me sentisse confortável dentro da minha tristeza e solidão.

Isso é meio triste, mas não considero ruim. É melhor se sentir confortável com o que você é, do que se enganar tentando mudar. Com as suas constantes mudanças, arrependimentos e até mesmo previsões de sua própria vida através da música, as músicas de Bowie me fizeram (e imagino que esse efeito tenha acontecido em todos os seus fãs) perceber que tá tudo bem ser você mesmo, mesmo que isso signifique admitir que é triste.

Acho que “Moonage Daydream” será uma viagem muito pessoal para cada um e eu até queria escrever mais sobre esse show, mas eu não consigo. Desembarcar dessa viagem é difícil, principalmente quando ela te lembra do que você é. Mas ficam três coisas: um sonho realizado de ir a um dos shows que mais queria ir, que preciso ir de novo em algum show e

"Você se sente completo quando compõe?"

"Não. Eu não sinto nada". 

Essa frase de David Bowie é exatamente como eu me sinto em relação a escrita. Mas, assim como ele não conseguiu parar de compor, eu (infelizmente) não consigo (ainda) parar de escrever.

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