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Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Chicago
This critic is part of Chicago Film Festival 2022 coverage
There are signs all over, that you dont see. But you can
learn to read them, and catch them when they appear.
What signs?
Fear, for example.
Tem sinais em todo lugar, que você não vê. Mas você pode
aprender a lê-los e captá-los quando eles aparecerem.
Quais sinais?
Medo, por exemplo.
Os sinais que eu, de maneira quase imediata, li em Freddie (Park
Ji-Min) logo que ela aparece pela primeira vez em “Return to Seoul”, dirigido
por Davy Chou, foi de tristeza. E logo o filme mostra não apenas que eu
acertei, mas também o motivo da personagem principal ser assim.
Freddie está em busca dos pais biológicos. Ela é uma mulher
coreana que foi adotada logo quando bebê por uma família francesa, o retorno a
Seul, é para achar seus pais e finalmente conhecê-los. Porém ela esconde isso
das pessoas ao seu redor, tanto os amigos que faz pelo caminho, quanto de seus
pais adotivos.
Pessoas tristes escondem coisas de maneiras diferentes. Freddie, assim como eu, esconde a sua própria tristeza de duas formas, para seus pais, ela tenta parecer bem soando fria e imparcial, alguém que apenas quer estar ali, a deriva, sem incomodar, sem ser um fardo. Para as outras pessoas, amigos, colegas de trabalho, namorados e namoradas, ela esconde através de uma falsa alegria e expansividade, alguém independente, mas que acorda todos os dias assustado, com medo e sem querer acordar.
A busca pelos pais biológicos foi a forma encontrada por
Freddie para tentar diminuir o medo e a tristeza dentro dela, tudo o resto é
uma distração, uma fachada para disfarçar sua falta de vontade de viver. Claro,
isso não disfarça o olhar vazio da personagem, algo característico de pessoas
tristes.
É através desse olhar que as pessoas ao redor dela, percebem
a sua tristeza. É muito fácil perceber isso pelos sinais, sem que o filme
expusesse isso, porém, o filme o faz mesmo assim através de alguns personagens,
como a recepcionista do hotel e uma das colegas de trabalho de Freddie, que
tanto pela fala “você é uma pessoa muito triste”, quanto pelo olhar, deixam
claro para ela que a tentativa de esconder sua tristeza foi malsucedida.
Toda pessoa triste dá sinais de sua tristeza. Assistindo a
esse filme eu lembrei de todos os sinais que eu dou da minha. Alguns deles são
iguais aos de Freddie, como as piadas, a ironia, a alegria e empolgação quando
se está bebendo em algum lugar. Outros dos meus sinais não tem nada a ver com
os dela, eu sei quem sou e sei da minha origem e ancestralidade.
Mas, outro sinal em comum que temos, vem dessa diferença.
Ambos acordamos todos os dias com medo, cansados só de termos acordado,
assustados com o que a vida pode nos oferecer. Freddie quer apenas que o tempo
passe, quer sumir, conheço muitíssimo bem essa sensação e quanto mais tentamos disfarçar
isso, mais esse sentimento aumenta.
O retorno a Seul de Freddie assusta e muito, aos
espectadores que assim como eu e ela, são tristes. Passamos duas horas com a
sensação de que a busca dela (mesmo com os avanços e sucessos que tem) são como
dar um murro em ponta de faca, não importa o que ela faça, ela nunca vai conseguir
se livrar da tristeza que sente, o jeito é aprender a lidar, o que também é
algo difícil de conseguir.
Freddie é música, aprendeu a tocar piano desde pequena com
os pais adotivos. “Return to Seoul” faz com que ela retorne a música, algo que
ela quer abandonar desde sempre, mas faz parte dela, a vida não a deixa
esquecer disso. Eu, assisto filmes de vez em quando e por mais que queira todos
os dias abandonar a escrita sobre eles, isso faz parte de mim e a vida não me
deixa esquecer disso.
Esse ciclo se repete, tanto para Freddie, quanto para mim.
Cada um de nós tem sua própria Seul.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Chicago
This critic is part of Chicago Film Festival 2022 coverage
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