10/08/2022 05:14:00 PM

Mostra 2022: Armageddon Time

Imagem: DIVULGAÇÃO



Em geral, eu não acho os filmes de James Gray ruins, mas eles não me cativam como fazem com boa parte das pessoas. Gosto muito de "We own the night" e "Ad Astra", mas menos dos outros trabalhos dele, mesmo dos mais aclamados como “Z - A cidade perdida” e “Era uma vez em Nova York”..

Logo, foi com baixa expectativa que assisti "Armageddon Time", ao contrário de alguns amigos. Confesso que isso fez minha experiência boa, pois não esperar algo e não criar ansiedade é sempre bom, mas ainda assim não posso dizer que gostei do filme.

Acompanhamos a história de Paul Graff (Banks Repeta), um jovem menino judeu que mora com sua família (pais, interpretados por Jeremy Strong e Anne Hathaway e irmão) e é muito próximo do avô, Aaron (Anthony Hopkins). Com o sonho de ser artista, o único amigo dele na escola é o menino negro Johnny Davis (Jaylin Webb). O filme retrata o cotidiano dessa família e da amizade dos meninos de maneira a documentar a Nova York antiga e como era viver na época de Guerra Fria e próximo da eleição de Ronald Reagan.

Talvez esse seja o filme mais frio de James Gray, por mais que a tentativa seja de ser o mais doce e pessoal. Isso porque tudo aquilo, tanto a vida do protagonista, quanto a da família dele é muito palatável, mas não cativou, ou, para ser honesto, não me cativou.


Para mim, o filme tenta ser sobre a história dessa família, mas é sobre privilégio branco. A obra é muito focada no que Paul e Johnny fazem de travessuras e como Paul sempre se livra delas de alguma forma (mesmo que tome uma surra do pai ou uma bronca da mãe) e o amigo não.

Então, como um homem negro, a única coisa que eu pensei durante o filme foi como eu, caso fizesse igual os meninos fazem, não me livraria igual o amigo de Paul. Pois para mim, aquilo é fora da realidade, é algo que apenas acontece com pessoas brancas e não com as outras pessoas pertencentes a outras minorias qualitativas.

Foi difícil, após pensar isso, não achar o filme sem sal, porém, ele não é sem sal apenas por essa falta de envolvimento que eu tive. Ele também é assim por não fazer questão de ser diferente disso, a obra se assume como sem sal e fria, ao contrário dos desenhos de Paul, sempre coloridos e quentes.

O único ponto que difere disso é Aaron, devido a atuação de Anthony Hopkins, que cria as melhores cenas do filme, como a cena do lançamento do foguete e a cena na qual ele fala para o neto o motivo dele mudar de escola. Está muito claro como o amor do avô pelo neto é real, o que faz com que as cenas dos dois sejam não apenas as melhores, mas as mais fáceis de causar algum tipo de identificação no público.

James Gray não é um diretor frio, não acredito que o problema seja ele, acredito que o meu não envolvimento do filme seja devido apenas a mim. Mas eu não consigo me envolver nesse caso e nem quero fazer isso, com algo que li como sendo sobre privilégio branco, pois nunca o tive e nunca o terei. Com o perdão do trocadilho: foi uma sensação meio cinza assistir “Armageddon Time”.

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