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Sobreviver é muito difícil
Não sei até que ponto a vida de Irene (Maeve Jinkings)
difere da vida de outros brasileiros pelo país. Claro, o caminho da personagem
principal de “Carvão” tem suas particularidades, mas o principal, a essência dele,
é muito parecida com a de qualquer pessoa tentando ter o mínimo nos tempos em
que vivemos.
Dirigido e escrito por Carolina Markowicz, Irene é uma
mulher que cuida do filho, do marido e do pai doente. Após uma proposta contraditória,
mas difícil de recusar, Irene passa a esconder um traficante em sua casa e carvoaria,
em uma pequena cidade do interior de algum estado do Brasil.
Contraditória porque envolve uma difícil ação da personagem e difícil de recusar pelo dinheiro. A língua universal é a do dinheiro, que por mais que as pessoas vivam de maneira humilde e sem nenhum tipo de luxo, esse idioma do sistema vigente não deixa de cobrar ninguém. Irene, assim como qualquer pessoa, precisa da grana, por isso ela aceita.
Viver já é muito difícil mesmo se estamos em uma situação
financeira relativamente confortável e é muito mais difícil para Irene, que não
é uma das pessoas nessa situação. Irene é uma pequena parte de um todo, uma metonímia
da nossa sociedade. Ela representa todas as pessoas que precisam não apenas de
trabalho para viver, mas também da ajuda do estado para ter uma condição de
vida melhor.
Não a vemos recebendo isso, a não ser no que diz respeito a
saúde. O que a faz trabalhar ainda mais e fazer mais coisas difíceis para ter o
dinheiro necessário para as contas. Talvez por isso, a personagem possa ser
lida até como uma mulher fria, distante do filho (pois do marido é até justo
ela ser distante), mas ela não é isso.
A transformaram nessa pessoa, “a gente aprende a sofrer pra
dentro”, diz ela em uma cena, ela aprendeu isso e aprendeu a ser fria o suficiente
para fazer o necessário para sobreviver, não viver. Porém ela quer ser desejada,
vista, entendida e tem sim, muito amor pelo filho pequeno.
Mas é muito difícil demonstrar esses sentimentos quando não
se tem tempo para senti-los. Irene não tem isso, ela não tem um espaço nem físico,
nem mental, onde possa sentir coisas e permitir que outras pessoas percebam a
verdadeira Irene. Isso é efeito do dinheiro e o carvão do título é justamente Irene
tentando colher as cinzas de algo que já passou e não volta mais.
Assim como todos nós. É, sobreviver é muito difícil.
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