10/26/2022 06:10:00 PM

Mostra 2022: Fire of love

Fire of love

O que faz o coração da Terra bater? Seu sangue fluir?

As coincidências propostas pela vida, isso é, quando elas são propostas, são estranhas, pois como entender quando duas pessoas nascem na mesma época, tem o mesmo interesse, se apaixonam e mantém sempre, através pura e simplesmente de sua relação, o fogo do amor aceso?

Não a toa, “Fire of Love” tem esse título. O documentário de Sara Dosa, conta a história de Katia e Maurice Krafft, dois vulcanologistas, que são os objetos dessa coincidência do amor. O casal estudava vulcões e os efeitos de suas erupções na terra, morreram juntos em uma delas no começo dos anos 90.

Em muitos momentos, pensamos em como tudo aquilo é inacreditável, não apenas a profissão do casal e as imagens que eles fizeram, mas a relação deles e como o maior fogo ali, não é dos vulcões, mas sim, o do amor entre os dois, duas pessoas que no aspecto de personalidade, são bem diferentes.

Maurice é bobo, um homem meio juvenil em suas atitudes e Katia é uma mulher completamente madura e adulta em comparação ao marido, mas, esse choque é o que mantem os dois juntos, assim como é o choque das placas tectônicas e sua separação ou junção, que geram tipos diferentes de erupções e efeitos na terra.

Se o casal estuda como o coração da Terra e o seu sangue flui, nós, espectadores, estudamos (ou ao menos conhecemos) como a relação deles flui e funciona, e como o coração deles bate junto do outro.

E ficamos pensando se algum dia teremos essa sorte, de encontrar alguém que mesmo diferente de nós, mas com um interesse em comum, faz tudo parecer mais fácil e seu caminho ser menos solitário, de maneira que a vida não seja um vulcão em erupção, mas um vulcão dormente e que juntos, possam deixar algum tipo de contribuição, sejam para as pessoas ao seu redor ou para o mundo todo.

Numa cena, é dito que Katia e Maurice são uma pequena parte da história da terra e que aquilo que ficará deles, após a sua morte, é o seu trabalho, as imagens que faziam dos vulcões e suas erupções, os estudos sobre o solo e sobre as mudanças imperceptíveis da Terra, isso me fez pensar que nós morreremos, mas as coisas que escrevemos são imortais (citando o rapper Pusha T) e o estudo deles é imortal.

“Eu o sigo, porque se ele morrer, eu prefiro estar com ele”, diz Katia em uma das últimas filmagens dos Krafft antes de sua morte. Acho que se eles estudam o coração da terra e nós, espectadores, estudamos no filme o coração deles, o resultado de ambos os estudos é que uma das coisas que move a terra, é claramente o amor que é possível sentirmos por outras pessoas.

E é uma pena que esse fogo muitas vezes se apaga, mas o que deixamos aqui e o que deixamos no outro, sempre existirá e as vezes com a força de uma erupção vulcânica.

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