O que faz o coração da Terra bater? Seu sangue fluir?
As coincidências propostas pela vida, isso é, quando elas
são propostas, são estranhas, pois como entender quando duas pessoas nascem na
mesma época, tem o mesmo interesse, se apaixonam e mantém sempre, através pura
e simplesmente de sua relação, o fogo do amor aceso?
Não a toa, “Fire of Love” tem esse título. O documentário de
Sara Dosa, conta a história de Katia e Maurice Krafft, dois vulcanologistas,
que são os objetos dessa coincidência do amor. O casal estudava vulcões e os
efeitos de suas erupções na terra, morreram juntos em uma delas no começo dos
anos 90.
Em muitos momentos, pensamos em como tudo aquilo é inacreditável, não apenas a profissão do casal e as imagens que eles fizeram, mas a relação deles e como o maior fogo ali, não é dos vulcões, mas sim, o do amor entre os dois, duas pessoas que no aspecto de personalidade, são bem diferentes.
Maurice é bobo, um homem meio juvenil em suas atitudes e
Katia é uma mulher completamente madura e adulta em comparação ao marido, mas,
esse choque é o que mantem os dois juntos, assim como é o choque das placas tectônicas
e sua separação ou junção, que geram tipos diferentes de erupções e efeitos na
terra.
Se o casal estuda como o coração da Terra e o seu sangue
flui, nós, espectadores, estudamos (ou ao menos conhecemos) como a relação
deles flui e funciona, e como o coração deles bate junto do outro.
E ficamos pensando se algum dia teremos essa sorte, de
encontrar alguém que mesmo diferente de nós, mas com um interesse em comum,
faz tudo parecer mais fácil e seu caminho ser menos solitário, de maneira que a
vida não seja um vulcão em erupção, mas um vulcão dormente e que juntos, possam
deixar algum tipo de contribuição, sejam para as pessoas ao seu redor ou para o
mundo todo.
Numa cena, é dito que Katia e Maurice são uma pequena parte
da história da terra e que aquilo que ficará deles, após a sua morte, é o seu
trabalho, as imagens que faziam dos vulcões e suas erupções, os estudos sobre o
solo e sobre as mudanças imperceptíveis da Terra, isso me fez pensar que nós
morreremos, mas as coisas que escrevemos são imortais (citando o rapper Pusha
T) e o estudo deles é imortal.
“Eu o sigo, porque se ele morrer, eu prefiro estar com ele”,
diz Katia em uma das últimas filmagens dos Krafft antes de sua morte. Acho que
se eles estudam o coração da terra e nós, espectadores, estudamos no filme o
coração deles, o resultado de ambos os estudos é que uma das coisas que move a
terra, é claramente o amor que é possível sentirmos por outras pessoas.
E é uma pena que esse fogo muitas vezes se apaga, mas o que
deixamos aqui e o que deixamos no outro, sempre existirá e as vezes com a força
de uma erupção vulcânica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário