10/28/2022 06:30:00 PM

Mostra 2022: Nada de novo no front

Imagem: DIVULGAÇÃO

Há muitos filmes de guerra por aí, de várias guerras em diferentes períodos históricos e há algo que sempre chama a atenção nesses filmes, a ideia de glamour no ato de ir para guerra, o heroísmo envolvido nisso, uma suposta glória que provavelmente nunca chegará nos soldados que lutaram.

Isso ocorre principalmente nos filmes que abordam guerras mundiais, como “O resgate do Soldado Ryan” ou para citar um exemplo mais recente “1917”. Há uma noção de heroísmo ali que faz as pessoas enxergarem a guerra dentro daquele filme como entretenimento e não como algo real.

Claro, cinema é mentira e não tem problema nenhum nisso, mas é interessante ver como “Nada de novo no front”, dirigido por Edward Berger, tenta ser diferente tanto na ideia de glamour e heroísmo apresentada por outros filmes e por propagandas que tinham como objetivo fazer jovens se alistarem, quanto em mostrar o lado rival, no caso, a Alemanha da primeira guerra mundial.

Acompanhamos Paul, um adolescente que pressionado por seus amigos, se alista para servir na primeira guerra mundial. Ao chegar lá, é claro que encontra um ambiente hostil e não está preparado para o front, a vida nas trincheiras e tudo o que uma guerra envolve.

Berger nos tira constantemente das possíveis grandes cenas de um filme de guerra, seja pela aparência dos personagens, ou pela maneira como escolhe abordar o período de 1917 e 1918, que é onde o filme foca. Esses dois anos foram os últimos da primeira guerra, que durou de 1914 a 1918.

A aparência dos personagens é suja. O tempo todo durante as batalhas não há limpeza (como em “1917”, por exemplo), todos ali estão sujos e conseguimos ver o cansaço de cada um, mesmo com os seus rostos cheio de lama, aliado a isso está a velocidade dos confrontos, pois ao mesmo tempo em que são lentos (não são filmados de maneira acelerada como em um filme de ação, por exemplo), eles dependem muito do acaso, há várias situações onde Paul passa muito perto da morte e é salvo por um tiro que veio do nada, ou por uma explosão inesperada.

O que nos leva as cenas de guerra em si, que além de serem relativamente poucas em comparação com o que é esperado de um filme do gênero, elas dão lugar a convivência dos soldados e ao que acontece entre uma batalha e outra, como as negociações pelo cessar fogo e a dificuldade que os soldados têm de se alimentar.

Esse tipo de escolha foge do caminho grandioso e torna o filme um grande questionamento se guerras fazem ou não sentido e se fazem, para quem? Claramente não é para os soldados no front, que como dito por um personagem para Paul, “Isso aqui é como uma febre, ninguém quer ter, mas não temos escolha”, mas pode ter sentido para os generais, marechais e empresas que vendem armas para ambos os lados e ganham dinheiro com isso.

“Nada de novo no front” constrói esse ambiente anticlimático e anti-heroico para nos transmitir a ideia de que na maioria das guerras, ou ao menos nas duas guerras mundiais, a luta é por nada e quem ganha não são os soldados, mas sim, as pessoas ricas que alimentam a guerra. E o final do filme deixa claro como Paul, assim como todos os soldados independente de nacionalidade, lutaram por tão pouco que não valia a pena o esforço.

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