Imagem: DIVULGAÇÃO |
Em dado momento de “Terceira Guerra Mundial”, o público se flagra pensando se aquela situação pode ou não acontecer na vida real. A resposta é que já acontece, pois o que Shakib passa durante as 2h00 de filme não é exatamente inédito, é apenas ignorado por boa parte das pessoas, para que consigam viver com sua própria inércia.
Dirigido por Houman Seyyedi, acompanhamos Shakib, um homem
que deixa a mulher pelo qual é apaixonado para ir trabalhar de figurante em um
filme sobre nazismo. Após chegar no local, o diretor o vê e decide que ele, um
não ator, interpretará o papel de Hitler. Sem opção, Shakib precisa aceitar o
papel, ao mesmo tempo em que lida com dívidas.
De certa forma, Seyyedi constrói um panorama do cinema iraniano, pois é muito comum no cinema desse país o uso de não atores e os filmes serem feitos em locações e não em estúdios. Mas, mais do que isso, vemos como o capitalismo afeta tudo, inclusive os filmes e as pessoas que o fazem, principalmente a equipe por trás das câmeras.
Por mais que o dizer “uma câmera na mão, uma ideia na cabeça”
seja muito bonito, ele é muito romantizado. Fazer um filme exige planejamento
com gastos e imprevistos, o que demanda dedicação e pessoas preparadas para
tal. Ao vermos os bastidores do filme dentro do filme, percebemos como o
funcionamento da arte não pode ser romantizado, ele precisa ser planejado.
Esse funcionamento também pode ser abusivo, já que Shakib em
nenhum momento quis fazer parte daquele filme, o que o levou a ir para aquele
local foi o dinheiro que era pago por diária, não a vontade de participar de
algo, pois como ele mesmo diz, ele não sabe atuar, ele não é ator, porém, o
diretor, de maneira idealista e egoísta, decidiu colocá-lo no filme sem pensar
no que Shakib tinha dito.
O protagonista é ignorado muitas vezes, inclusive por Ladan,
a mulher pela qual é apaixonado. Surda, ela vai até o set após ver, em uma chamada de vídeo, a casa onde hospedaram Shakib, para ficar lá com ele, mesmo sem
poder fazer isso. O que prejudica o personagem principal de uma série de
formas, mas principalmente, porque é aí que o capitalismo mostra como é puro
ódio e ambição.
E se sobra algo desse ódio e ambição, é apenas mais ódio. A
terceira guerra mundial de Shakib é o lidar com frustrações não geradas por um
desejo dele, mas sim, construídas por um sistema baseado em desespero e frustração.
Se em certas cenas, vemos as várias tomadas sendo filmadas, é porque o protagonista foi
obrigado a fazer algo que não sabe e se vemos a crescente necessidade por
dinheiro e o claro interesse da mulher nele, é porque o que era amor se tornou cilada.
Claro, isso não é motivo para descontar ódio nas pessoas que não tem a ver com isso, porém, é o que acontece em várias situações de nossas
vidas e na de Shakib. Seyyedi monta esse ódio aos poucos, em cada
grosseria do produtor, em cada exigência descabida de algum personagem, em cada
pequena frustração do dia a dia, vemos como ele se torna (ou se mostra)
aquilo que se é.
Em uma cena do filme dentro do filme, onde Shakib precisa
bater em uma pessoa, o diretor fala para ele em particular, “imagine que você é
casado e tem um filho. Alguém machuca seu filho, o que você faria?”, “eu não
bateria na pessoa”, ele responde para, logo em seguida, a cena do filme dentro
do filme mudar de um tapa, para um tiro que Shakib dá no personagem.
Ali foi uma pequena mostra, um símbolo, assim como o
bracelete de Ladam em dado momento, de um sentimento que já existia devido a
uma clara frustração anterior, que o diretor reforçou em um não ator. Mas, se a
atuação era falsa, justamente por ser atuação, o sentimento de ódio que vemos
em Shakib é real e infelizmente, é real em muitas pessoas não apenas devido ao
capitalismo, mas porque, as vezes, pessoas odeiam as outras pessoas.
E assim, o ciclo de ódio pode ou não se completar e tem
muitas guerras mundiais por aí, a do filme de Houman Seyyedi é apenas mais uma
delas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário