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Crítica: Entre Mulheres

Entre Mulheres
Imagem: Universal Pictures / DIVULGAÇÃO

Era inegável, até pelo próprio título, que "Entre Mulheres" seria um filme literalmente entre elas e sobre questões que afligem as personagens femininas do trabalho de Sarah Polley, o que talvez seja surpreendente é a gentileza que o filme tem dentro de uma crueldade inesperada da maneira que acontece, não por acontecer.

Acompanhamos Salome, Ona e Mariche (Claire Foy, Rooney Mara e Jessie Buckley respectivamente), que vivem em uma colônia trabalhando em modalidade análoga a escravidão para os homens daquele local. Após um caso de estupro acontecer e uma delas revidar, elas foram ameaçadas pelos homens do local e precisam tomar uma decisão: não fazer nada, ficar e lutar ou ir embora.


Polley escolhe contar essa história, que é baseada em um caso real ocorrido em 2010, através dos diálogos entre aquelas mulheres. Assim, descobrimos que elas vivem em um molde parecido com uma das colônias dos EUA pré independência em todos os sentidos. Tanto no sentido reprodutivo (elas são consideradas apenas úteis para isso), quanto no sentido trabalhista, visual  e até em relação ao voto, parece que estamos vendo um filme antigo, não algo recente.

A fotografia sem cor, ajuda a transmitir esse sentimento de vazio, sensação essa que é apenas preenchida pela sensibilidade de Polley em mostrar aquelas relações mutáveis entre elas, cheia de discordâncias e brigas, acertos e erros, debates sobre fé e/ou a falta dela dentro daquele contexto.
E principalmente sobre amor. Por incrível que pareça, ao contrário de um filme cruel, vemos um filme gentil, até mesmo doce, sobre como aquelas mulheres se importam umas com as outras.

O preenchimento que Polley propõe também envolve nossas memórias, do que vimos, das pessoas que conhecemos que sofreram com algo abusivo próximo daquilo retratado por Polley e como essas pessoas, depois que superaram, se tornaram ainda mais amorosas que antes.

Tudo aquilo que é visto e lembrado, dói muito e é punitivo para quem sofre. A questão que fica é se o amor que sentimos vale nossa liberdade e às vezes vale mais a pena deixar ir e olhar para frente (como uma das personagens retrata ao falar de seus cavalos) do que ficar e enlouquecer ou pior.

Ao trabalhar essa gentileza, através da mudança de opinião delas (que fique bem claro que tanto as queriam ficar e lutar, quanto às que queriam ir embora estão certas), Polley mostra que mesmo no meio da crueldade podemos nos dar as mãos.

E que é possível perguntar sem julgar o outro. "Estou apenas perguntando, não julgando" diz Ona para Mariche em certo momento e nesta cena, fica claro o amor que elas sentem uma pela outra. Esse amor que fará a vida das filhas delas e principalmente, dos filhos dela, ser diferente da vida delas, tanto o amor quanto a crueldade ensinam algo. 

"Porque o amor, a ausência do amor, o fim do amor, a necessidade do amor, se traduz em tanta em violência?”. Ona fica sem resposta para essa pergunta, assim como o público, mas ao menos sabemos que a vida das pessoas que virão será diferente e a daquelas mulheres também. Só esperamos que seja melhor.

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