Crítica: Till - Busca por justiça

Imagem: DIVULGAÇÃO

Nos últimos anos, se tornou estranho para mim assistir a filmes como "Till - Busca por justiça". Não pela qualidade (por mais que sejam todos iguais), não pela necessidade de serem feitos, mas por causa de mim mesmo.

Porque eu confesso estar cansado de assistir a filmes que mostram pessoas não brancas e no caso de "Till", negras, sofrendo, mais uma vez.

Claro, a história que a diretora Chinowye Chukwu escolhe contar é uma história que precisa ser conhecida por mais pessoas, as vezes, a luta contra o racismo começa ao assistir um filme.

Aqui, acompanhamos a trajetória de Mamie (Danielle Deadwyler), a mãe de Emmitt Till, assassinado por brancos em um linchamento no Mississippi. Mamie quer que os assassinos e a mandante sejam presos e começa a luta retratada no título.

Assim como Mamie, Chukwu decide por gerar o ódio (que uma situação assim deveria gerar nas pessoas por si só), através do choque, dando zoom no corpo de Emmitt, por exemplo e não escondendo cenas de violência.

O que não é ruim, mas me leva ao ponto inicial desse texto. Por mais que seja importante mostrar isso, eu estou cansado de ver isso.

Como alguém não branco, estou em uma fase de preferir ver histórias com não brancos onde nós somos mostrados apenas vivendo, sem nada relacionado ao racial. 

Porque, por mais que sejamos a nossa raça, somos mais do que isso e as pessoas brancas esquecem disso. Chukwu é uma diretora negra, ela, com certeza, sabe disso melhor do que eu.

Mas volto a ressaltar, o mostrar, o choque, não são o problema, o problema é como eu reajo a ele, por uma escolha feita por mim, como destacado no parágrafo acima.

Se tem algo para o qual essa ferramenta serve é para elevar a atuação de Danielle Deadwyler, que opta não pelo melodrama (não que isso seja ruim ou que ela não demonstre sofrimento). Ela expõe o ódio dela de uma forma seca, fria, olhos vazios, não por falta de dor, mas por excesso dela.

Com isso, "Till - Luta pela justiça", se torna mais um exemplar de um filme denuncia sobre racismo, ruim? Não, importante? Sim. Mas fica por aí.

Penso em Jordan Peele, que recentemente, com seus filmes "Não, não olhe" e "Nós", fez obras que contam a história de negros, mas apenas isso, histórias, não sobre o racismo que elas sofrem, mas sobre as pessoas que ali estão.

Esse é o segundo filme de Chinowye Chukwu que assisto, o outro, também fala de racismo, se chama "Clemency". E por mais que ela possa ter outros filmes que não assisti que não sejam sobre isso (se tem, eu não sei), eu adoraria vê-los ou que ela fizesse um novo filme, no qual apenas é contado a história de uma pessoa negra, não uma história sobre o que ela sofre.

Mas, de novo, é uma preferência minha, não um problema.