3/30/2023 10:00:00 AM

Crítica: Dungeons & Dragons - Honra entre rebeldes

Dungeons & Dragons - Honra entre rebeldes
Imagem: DIVULGAÇÃO / Paramount

Por Diego Quaglia

O projeto de um filme sobre o famoso RPG, “Dungeons & Dragons” da Hasbro, já circula o cinema há décadas passando por diferentes estúdios, roteiristas e diretores até finalmente ganhar corpo em 2022 com o longa–metragem “Dungeons & Dragons: Honra Entre Ladrões”, passando em uma terra de dragões, elfos, anões, orcs e outras criaturas fantásticas, onde um ladrão interpretado por Chris Pine forma um bando de aventureiros com que viverá vivências épicas.

O fato do filme de ser co–dirigido e co–escrito pela dupla de cineastas Jonathan Goldstein e John Francis Daley do interessantíssimo “A Noite do Jogo” (“Game Night”), uma das melhores comédias mainstream da década passada, já demonstram fatores que tornam “Dungeons & Dragons” levemente diferente de outros filmes que se comprometem em explorar o gênero da fantasia e de criar mitologias para esse cenário de blockbuster.


Essa é uma aventura que busca um equilíbrio de elementos que acabou me remetendo aventuras como “A Princesa Prometida” (“The Princess Bride”) ou “Stardust – O Mistério da Estrela” oferecendo tanto uma jornada épica cheia de ação, perigos e mitologia, mas também adicionando tudo isso um bom–humor bem malandro, uma linguagem toda pop de acontecimentos e ritmo, irônico e satírico que tira sarro de tudo o tempo inteiro, enquanto ainda se mantém interessado na mitologia de mundo que está tratando. Isso tudo com um clima de muita leveza e simplicidade que remete o filão de fantasia dos anos 80 como “O Feitiço de Áquila”, “Willow – Na Terra da Magia”, “A Lenda” e outros.
 
Goldstein e Daley têm talento na condução desse clima muito ameno e divertido do filme, agradável, conduzindo alguns momentos muito inspirados de ação, de combate cheios de cortes rápidos e de como usar o ritmo ou a filmagem para construir a empolgação com aquele mundo. Destaco talvez a melhor cena do filme que é um plano sequência em que a personagem de Sophia Lillis deve fugir por diferentes espaços do reino e a câmera a acompanha até o fim com bastante intensidade. 

As belas paisagens da natureza, as gags de esquete são muito bem colocadas como a participação especial do Bradley Cooper, os planos demonstram a dimensão daquele mundo, as transições muito repentinas e principalmente os efeitos do filme na elaboração de criaturas e animais que escapam de qualquer ideia de realismo (tem algo de muito Jim Henson em certos momentos) demonstram o capricho à moda clássica com o gênero da aventura de fantasia. Uma pena que mesmo assim o filme não fuja desse padrão de muitos blockbusters da atualidade em fazer uma fotografia lavada, sanitizada e um sem contraste de cor forte deixando tudo visualmente com menos personalidade.
 
Na realidade, ele não foge de vários padrões já que grande parte do filme parece estar sendo feita de maneira um tanto quanto “obrigatória”. Somos apresentados pelo roteiro pra aqueles personagens, pra aquele mundo, como se já tivéssemos que ter uma relação prévia com eles e já termos uma relação com eles. Não existe tempo, desenvolvimento ou investimento de fato para que eu me importasse de verdade com qualquer uma daquelas pessoas ou pudesse me imergir naquele mundo. Tudo é jogado e fica nisso, o que torna a coisa meio “falsa” e fora do lugar. 

Esse descompasso fica visível nas interpretações onde o ótimo Chris Pine (um dos atores mais mal aproveitados da sua faixa se não o mais) deita e rola no carisma e humor do seu personagem, mas o mesmo não pode ser dito da sua companheira de cena Michelle Rodriguez que segue uma atriz fraquíssima. Os outros intérpretes vivem tanto o mais do mesmo dos próprios personagens quanto das suas atuações, a exemplo de Hugh Grant no seu piloto automático costumeiro.
 
Esse lado desengonçado fica perceptível até nas piadas entre o grupo principal e a dinâmica entre eles quer muito martelar um “Guardiões da Galáxia”, elas me parecem só derivativas e mecânicas por tudo ao redor da caracterização daquelas figuras ser genérico, e os momentos emocionais e dramáticos que deviam emocionar são ainda mais vergonhosos com o filme se levando a sério querendo me fazer importar com relações e personagens que nem foram de fato observados com atenção. E o resultado mais uma vez é o sentimento de algo “falso” no ar. 

Se a melhor parte de “Dungeons & Dragons” é o seu ar descompromissado, ao final parece que o filme tem que seguir a cartilha épica por seguir e faz ela do jeito mais preguiçoso e manjado possível. Existe também uma falta de coerência tremenda em construir um filme descompromissado, leve e que dá tantas voltas nele mesmo e se arrasta ao seu final, como se não reconhecem o tipo de filme que eles estão fazendo. Se Goldstein e Daley tem um desinteresse evidente ao construir um blockbuster que precisa ser mil coisas ao mesmo tempo, pelo menos o filme entrega uma aventura minimamente divertida e competente quando entende o que tem de melhor e no que a dupla realmente se interessa e tira a sua diversão: o seu descompromisso e a sua falta de pretensão.

Veja mais do trabalho do Diego aqui.

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