5/31/2023 10:30:00 AM

Crítica: Homem Aranha - Através do Aranhaverso

Homem Aranha - Através do Aranhaverso
Imagem: Sony Pictures / DIVULGAÇÃO

"Não se perca"

Muito será dito sobre “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, então eu não sei até que ponto mais um texto irá acrescentar algo a uma possível discussão em torno do filme dirigido por Joaquim dos Santos, Justin K.Thompson e Kemp Powers, sequência do primeiro filme de 2018.

E de fato, há muito a ser dito. Dessa vez, Miles Morales já é Homem-Aranha há um tempo e ele precisa livrar o mundo do vilão Mancha, que é capaz, devido a sua presença na explosão do colisor do primeiro filme, a criar vários multiversos. Gwen Stacy, amiga de Miles e vários outros Aranhas liderados por Miguel, uma das versões que criou uma forma de viajar pelos universos, tem esse mesmo objetivo.

Por mais que tenham vários Aranhas, de vários tipos e gêneros, Miles e Gwen estão em uma busca pessoal, uma que pessoalmente, eu também estou e duvido que outras pessoas também não estejam, que é a procura de se livrar da solidão.

A solidão de um super-herói é clara. Eles são pessoas, que por acaso se tornaram altamente capacitadas, com o dever de salvar o mundo e por isso, precisam traçar uma jornada isolada, pré-definida pelo heroísmo, para não arriscar pessoas ao seu redor, caso eles tenham alguém. Essas pessoas não têm com quem compartilhar isso e podem, sim, compartilhar outras coisas, mas mais cedo ou mais tarde, para eles, tudo se resume a isso.

Miles está descobrindo isso com o tempo, Gwen já sabe que sua solidão é inevitável. Eles precisam cumprir sua vida, sua trajetória, suas missões de salvar o mundo, os cânones como diz Miguel em certo momento do filme. Assim como nós precisamos fazer as nossas coisas e por mais que sejamos obrigados a tentar, todos temos esses cânones, pontos sem volta, inevitabilidades que até podemos, caso saibamos como e tenhamos a oportunidade, tentar evitar, mas que no fundo, sabemos que não vai dar certo.

“Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” nos lembra que nós não podemos nos perder. Em dado momento, a mãe de Miles fala a ele o que provavelmente Gwen adoraria ter ouvido, para ele não se perder, para ele, independente do que faça, lembrar que ele tem a casa dele e os pais dele, para não deixar as outras pessoas o quebrarem.

Acredito ser muito fácil e involuntário deixar que essas coisas aconteçam, a vida é extremamente perigosa, é um salto de fé, que muitas vezes vai dar errado. E não é como se tivesse dado errado para Miles e Gwen, mas eles ainda estão aprendendo isso na medida em que tentam, de alguma forma, evitar alguns de seus cânones.

Porém, assim como nós, eles estão tentando evitar seus cânones ao mesmo tempo em que eles acontecem. E esse aprendizado é eterno, eu acho. É muito comum a sociedade associar o final do crescimento quando a fase adulta começa e por mais que até faça sentido, eu discordo, o crescimento é eterno e esse pensamento é perigoso, porque podemos ficar presos a um não amadurecimento, é uma das várias formas de se perder no caminho.

A história de Miles e Gwen não acaba nesse filme, mas felizmente é possível dizer que eles não se perderam entre uma batalha e outra (a batalha na terra futurista é provavelmente uma das cenas mais legais do ano). Porém, o mundo deles, literalmente e figurativamente está de ponta cabeça e imagino que depois de muitas coisas e de um bocado de vida, o nosso mundo também esteja da mesma forma.

Eu espero que Miles e Gwen na sequência de “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” entendam que a batalha contra a solidão é eterna e que se perder é normal e espero que nós, pessoas comuns, após sairmos de 2h20 de cor, luz e de uma terapia involuntária, entendamos que o nosso mundo está de ponta cabeça e mesmo depois de o virarmos ao normal, pode ser que ele fique assim de novo, então, não se percam, a solidão sempre vai ser grande e infelizmente, as vezes, inevitável e duradoura.

Que se fodam os cânones, voltem para casa.

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