Imagem: DIVULGAÇÃO / Universal Pictures |
Eu fiquei pensando, enquanto assistia a “Asteroid City”, em como todas aquelas pessoas, unidas ali por motivos diferentes e que ficaram ali por acaso, precisam de um recomeço e esse é necessário a elas também por motivos diferentes umas das outras.
O novo filme de Wes Anderson talvez seja sobre essa ideia de
recomeço, talvez não, mas o fato é que acompanhamos a rotina dessas pessoas por
algum período e a história que vemos é uma peça de um dos personagens (e vemos
a história sobre isso também). Entre essas pessoas, estão Augie (Jason Schwartzman), os filhos dele, que acabaram de perder a mãe e Midge (Scarlett Johansson), uma
atriz insatisfeita por não fazer os projetos que quer por mais que ame a
profissão.
A rotina que vemos é envolvida por vários outros personagens ao redor de Augie e Midge e de seu recomeço. No meio daquele deserto que é a cidade título, ver as rotinas dessas pessoas é reconfortante de certa forma, porque elas estão perdidas assim como muitos de nós. Perdidas em meio a frustrações pessoais e a necessidade de seguir em frente.
Augie está triste devido à perda da esposa, ele se refugia
na fotografia, uma forma de arte. Na fotografia e nos filhos, ele encontra
motivos para viver e não se isolar do
mundo, essa que é a sua maior vontade. Midge, encontra na atuação algo que ela
ama, mas que a frustra porque ela não faz as peças que ela quer fazer, porque
aquilo que a levou ao estrelato é o exato oposto do desejado, porém, ela se
refugia na atuação e busca construir novos laços dentro dela e manter o laço
com sua filha.
Nós sempre buscamos nos refugiar e reconfortar
quando algo ruim acontece. Em “Asteroid City”, esse reconforto é algo passado
pelo amarelo-claro do sol e do deserto, o calor daquelas pessoas que nos
aproxima da história e faz com que nos envolvamos nesta.
E o filme de Wes Anderson também nos faz lembrar que sempre
recomeçamos para conseguirmos manter nossa rotina igual. Augie e Midge não
buscam recomeçar suas histórias após frustrações diferentes para que a sua
vida mude da água para o vinho, na verdade, eles querem recomeçar justamente
para que a vida volte a ser um pouco parecida com o que já foi um dia.
O retorno a algo bom é a constância para aquelas pessoas. Se
Augie e Midge buscam isso, Woodrow (filho mais velho de Augie) encontra seu refúgio
na genialidade de suas experiências, assim como a filha de Midge, Dinah, encontra
o conforto igual a Woodrow. Ou o gerente do hotel (Steve Carell) cuja forma de esquecer
um pouco é atender as pessoas com o máximo de gentileza possível e claro,
Schubert Green (Adrien Brody) que é o autor da peça (fictícia) que o filme
relata.
Green escreve a peça e se refugia nela e no trabalho que ela
dá, após seu divórcio de um casamento longo. É claro que ele, assim como todo
bom autor, se coloca nos seus personagens e é por isso que muitas vezes encontramos
refugio na arte, porque o fazer a vida ser ao menos um pouco parecida com o que
era antes, passa pela lembrança que temos dela e a arte é uma forma de memória.
Augie encontra essas lembranças nas fotos que tira e tirou
(a foto da esposa que ele mostra em uma cena do filme), Midge encontra nas
peças que faz e Schubert encontra na peça “Asteroid City” em si e todos nós temos alguma coisa que nos faz lembrar, mesmo que brevemente, de algo
bom.
Parece que tanto os personagens do filme, quanto a gente,
vivemos esse algo bom como se fosse um sonho e quando acordamos dele, redescobrimos
o que nos cerca de fato. Em dado momento de “Asteroid City”, os personagens
dizem “You can’t wake up if you don’t fall asleep” (Você não pode acordar caso
não tenha dormido) e de fato, é importante acordar e sabermos o que nos cerca.
Mas convenhamos que na maioria das vezes, a gente só quer voltar para o sonho. O sonho de Augie e Midge por um breve período, foi “Asteroid City” aquela cidade que claramente serve como referência a Los Alamos (onde foram realizados os testes da bomba atômica) e a janela onde eles conversavam.
Para voltar ao sonho, eles
encontrarão o refúgio. Augie nas fotos, Midge na peça e o público em ver e
rever esse belo filme de Wes Anderson.
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