Comentários sobre Fallen Leaves, de Aki Kaurismaki e Anatomy of a fall de Justine Triet. Ambos os filmes vão estrear no Brasil, Fallen Leaves em 30/11 pela MUBI e Anatomy of a fall em 2024, com distribuição da Diamond Films.
Fallen Leaves
O cinema de Aki Kaurismaki, para muitos, é um cinema frio e rotineiro. Eu discordo disso e "Fallen Leaves" é exatamente o motivo e a prova que os filmes do diretor finlandês são o exato contrário de frio.Duas pessoas que se encontram no meio de suas rotinas, em um inverno que seria uma estação qualquer, se não fosse a guerra da Ucrânia. Ansa trabalha, Holappa trabalha, suas rotinas são chatas, sem vida, até que eles se encontram em um bar.
Duas pessoas com seus problemas, que decidiram encontrar esperança na vida. A música, personagem tão importante em "Fallen Leaves" traduz os sentimentos deles. Se Ansa não tem dúvidas sobre o que sente, Holappa, muito devido ao alcoolismo, precisa lidar com seus erros. Entre um dia e outro, uma demissão e outra, entre uma derrota gerada pelo capitalismo e uma vitória no meio dele, prevalece a gentileza.
Prevalece o olhar de carinho ao encontrar um cachorro perdido e decidir adotar ele. Prevalece o acaso do papel perdido e com ele o número de telefone que tanto queria e prevalecem os caminhos de Ansa e Holappa sempre se cruzarem, mesmo em meio a frieza que domina as pessoas.
O inverno acaba, as folhas caem, as flores passam a crescer e com ela surge a esperança no reencontro, o acaso unindo as pessoas novamente, Ansa e Holappa de algum jeito ali e o desejo no espectador de ter alguém para dividir a rotina e as derrotas que o capitalismo gera.
A piscada de Ansa e o sorriso em um momento do filme é o sorriso do espectador quando Fallen Leaves termina.
Lindo.
Anatomy of a fall
Ao ver a história de Sandra e ao contar essa história, Justine Triet entende que precisa de uma forma dura, sem movimentos de câmera muito bruscos, sem grandes ousadias. Pois o contexto é importante e a análise fria dele, também. O formalismo, talvez até excessivo de "Anatomia de uma queda" se torna útil, porque talvez, para as mulheres, Sandra não seja imediatamente suspeita e nem ao menos merecedora de ser indiciada, mas, para muitos homens, como os envolvidos no julgamento e na opinião pública, ela é a única culpada.
Triet quer mudar esse olhar e fazer com que nos atenhamos aos fatos, a história e não a nossa opinião, ou a opinião dos personagens do filme. Por mais que pessoas sejam muitas vezes grosseiras, isso não significa culpa e por mais que muitas vezes seja difícil ver o contexto, é importante ver todos os lados. O contexto que a direção ótima de Triet constrói é essencial para vermos a anatomia (com perdão do trocadilho) do que aconteceu.
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