As guerras são movidas por ideologias, cada estado briga
pelas ideologias mais favoráveis aos seus interesses ou aos interesses daqueles
que são aliados. Isso também serve para seus exércitos, porém, não serve para
os soldados de maneira individual, de forma que quando uma pessoa se alista ela
abandona sua privacidade e individualidade para se tornar membro de um todo e,
pensar como esse todo.
É justamente essa batalha ideológica individual que “Até o
Ultimo Homem” mostra. Dirigido por Mel Gibson, o filme conta a história de
Desmond T. Doss – interpretado por Andrew Garfield – que, temente a Deus e
tendo convicções fortíssimas, decide nunca segurar uma arma na vida, porém,
quando a segunda guerra eclode para os Estados Unidos, ele decide servir ao seu
país como médico no campo de batalha e enfrenta as consequências de sua decisão
ideológica.
É muito interessante que o filme mostra exatamente a perda
de individualidade citada no primeiro paragrafo, a partir do momento em que
Desmond entra no exército ele é obrigado a deixar tudo em que acredita de lado,
e sofre intensas represálias tanto físicas quanto psicológicas para isso, tendo
sido até levado a julgamento, isso mostra que apesar do patriotismo presente em
todos os exércitos de quaisquer países, caso, um soldado não siga a doutrina
dominante ele será discriminado e desrespeitado.
A defesa de suas convicções é muito bem destacada por Andrew
Garfield, usando de um sotaque típico do interior estadunidense, de um olhar
baixo e postura tímida, Garfield faz de Desmond um homem que faz de tudo pelas
outras pessoas mas, não esquece de si mesmo e de sua família e amigos, além de
que, quanto mais tempo ele passa no exército, mais ele adota uma postura segura
e uma voz firme, o que mostra o desenvolvimento do personagem.
O filme apresenta uma rima visual muito interessante, em relação a colina que os irmãos sobem no inicio, com a colina na qual Desmond salva várias pessoas. As colinas em questão são mostradas pelo mesmo angulo quando vista pela primeira vez, seja por um personagem, seja pelo público. A sequencia do treinamento é uma referencia ao filme de Stanley Kubrick, "Nascido para Matar", principalmente no primeiro contato com o sargento com a sua unidade.
Apesar disso, o filme expõe apenas o inimigo – no caso os
japoneses – como sendo os culpados pela guerra, e sabemos que não foi assim, e
essa exposição tem como consequência transformar em apenas o norte americano, o
que é a típica formula de Hollywood para os filmes de guerra.
Felizmente, o personagem da história abordada aqui é
realmente um herói, não apenas por ter salvo várias pessoas – independente de
sua nacionalidade – e sim por ter defendido algo em que acreditava, o que hoje
em dia é tão difícil de ver, pessoas que defendem suas ideologias e ao mesmo
tempo buscam não agredir o próximo, não propagando o ódio. Logo, o ponto alto
do filme reside em seu personagem principal, mas, mesmo com erros, “Até o
Último Homem” vale a pena ser visto, não apenas por um personagem, mas também
por sequencias de guerra muito bem feitas por Mel Gibson, que sabe exatamente como
fazer esse tipo de coisa.
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