12/26/2017 03:47:00 PM

Crítica: Corpo e Alma

Corpo e Alma
Imagem: Imovision / Divulgação
Cada pessoa, buscando se unir a outra, não deseja realizar apenas a união física, mas, caso queira algo duradouro, fugindo da velocidade e do efêmero tão presentes atualmente, a junção deve ser também mental, o corpo e a alma como uma coisa só, físico e tangível unidos ao psicológico.

Até porque, casais em geral costumam ser duas pessoas problemáticas que se encontraram, fechando os olhos e desejando um futuro melhor para si mesmas, assim, quando voltarem a enxergar, perceberem que aquilo que faz diferença não é o fim e sim o começo.


“Corpo e Alma”, vencedor do Urso de Ouro de 2017, premio máximo do Festival de Berlim, expõe justamente em suas quase duas horas de projeção, unindo sonho e realidade, mental e físico, como se fossem um só, e mostrando como a solidão é natural do ser humano assim como escapar dela.

Dirigido por Ildiko Enyedi, a obra conta a história de Maria (Alexandra Borbély) inspetora de qualidade de frigoríficos. Realizando seu trabalho no local comandado por Endre (Morcsanyi Geza), eles descobrem ter algo em comum: quando se deitam para dormir, eles sonham exatamente a mesma coisa, eles são um casal de cervos, que se amam e se cuidam em meio a floresta. Após descobrirem isso, eles, sabendo que estão apaixonados, passam a realizar tentativas de aproximação um do outro, mas dessa vez no mundo real.

A obra é muito inteligente ao expor dois assuntos que parecem opostos mas não são, a solidão e o amor andam de mãos dadas, assim como Maria e Endre querem fazer. Percebemos isso pelo uso acertado da montagem alternada, para expor qual é o ponto de vista que acompanhamos naquele momento, como por exemplo, na cena antecedente a um dos sonhos o ultimo mostrado é quem está dormindo na hora, ou seja, por isso o destaque vai as vezes para o cervo (o macho tem os chifres) e as vezes para a cerva, a fêmea é o animal sem os chifres.

Claro, há outras similaridades entre o casal que vão sendo aproveitadas durante a obra, Endre tem o braço esquerdo inutilizável devido a um problema de saúde, Maria, em dada ocasião, fica com esse mesmo braço imóvel. Ele também por conta dessa situação no braço, tem dificuldade para manter contato físico com as pessoas, ela também, mas por ser tímida e solitária.

Porém, ambos tentam mudar, a fotografia deixa isso claro, o filme começa escuro e em seu decorrer vai ficando claro, principalmente para mostrar a evolução de Maria, que vai de uma postura rígida em seu ambiente pessoal para uma personalidade cada vez mais abrandada, calma, simples. Com isso, o desenvolvimento dos personagens vai se dando de maneira gradual, assim como a relação entre os dois, passando cada vez mais do onírico para o real, do imaginário para o físico e da solidão para a socialização, unindo a presença de espirito a presença corporal.

Logo, “Corpo e Alma” é um filme sobre como duas pessoas, problemáticas nas suas proporções, desejosas de amor, querendo escapar da solidão, podem assumir um papel tão forte na vida do outro, o suficiente para fazer os sonhos se tornarem relevantes e, mais cedo ou mais tarde, virarem realidade. 

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