Imagem: VITRINE FILMES / DIVULGAÇÃO |
Em dado momento de “Camocim”, um morador da cidade diz que “em
época de eleição, amigo vira inimigo, minha vó, cara, minha vó, que vota no
vermelho, fui abraçar ela e eu tava de azul, ela não quis me abraçar porque
tava de azul.”
De quatro em quatro anos, a maioria das pessoas tem o mesmo
sentimento que a avó desse rapaz, devido a intensidade com a qual defende seu
candidato, sua ideologia e com o desejo de propagar, por amor ou por terror,
aquilo que o seu candidato acredita.
Dirigido por Quentin Delaroche, “Camocim” é um documentário
que acompanha Mayara Gomes, uma jovem que é organizadora de campanha de um amigo candidato a vereador da cidade que dá título a obra. Partindo disso, vemos como a politica
faz as pessoas mudarem ali, uma cidade se dividindo em duas.
O filme mostra muito bem como a política, apesar de ser igual
para todos em uma cidade grande, onde as pessoas não se sentem obrigadas a se
envolver nas campanhas e nos atos, em uma cidade pequena, é impossível não
estar envolvido, porque é muito mais fácil o acesso ao candidato e a família deste,
além da campanha atingir as pessoas de forma mais efetiva, que usa essa
proximidade para conquistar votos.
Proximidade bem aproveitada por Delaroche no uso de câmera,
sempre perto das pessoas envolvidas e com o objetivo de criar empatia,
principalmente no público que vive em grandes cidades e que pensa que nas
cidades pequenas a política não tem o mesmo efeito.
Mas, é aí que está o cerne da questão que “Camocim” quer
expor, vivemos em um cenário de medo, onde as pessoas tem medo umas das outras
e onde a política contribui para alimentar esse medo e não para cura-lo, assim,
apesar de uma campanha politica envolver mais pessoas em uma cidade pequena, por
elas serem atingidas mais rápido pela busca de votos, a violência que ocorre
por causa da eleição é a mesma, ou até pior, do que aquela que acontece em uma
cidade grande.
O que nos leva a vó do rapaz do primeiro parágrafo, a fala
em questão é real e as cenas das brigas dos atos ocorridos na cidade de Camocim
contrastam muito bem com aquelas onde são gravados os jingles divertidos com
músicas famosas, dá para ter diversão na eleição, porém, infelizmente, amigos
viram inimigos dependendo de quem votam.
A montagem da obra, além de manter um ritmo invejável, faz o
filme durar o tempo certo e expõe muito bem os sentimentos de cada pessoa em
relação a eleição e a campanha que Mayara está liderando para eleger o seu
candidato a vereador da cidade, sendo que todo o trabalho da moça é feito de
forma competente e da maneira certa de fazer tal serviço, buscando convencer
pelo dialogo e não pelo medo.
“Camocim” é um filme necessário hoje, por mostrar o medo que
domina a sociedade em tempos incertos, por expor uma forma bacana de fazer
política e por ser um estudo de personagem interessante. Ver esse documentário,
daqui um ou dois anos, pode servir como um objeto de análise de uma sociedade
que com certeza vai mudar até lá.
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