4/15/2019 12:00:00 AM

Crítica: Chuva é cantoria na aldeia dos mortos

Chuva é cantoria na aldeia dos mortos
Imagem: Embaúba Filmes / DIVULGAÇÃO
Poucos filmes já lançados tiveram em sua história um protagonista indígena e uma tribo indígena formando os outros personagens desenvolvidos na obra. Assim, é com alegria que, ao assistir “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos” pela primeira vez eu vi algo 100% protagonizado por índios.

Dirigido por João Salaviza e Renee Nader Messora, o filme conta a história de Ihjac (interpretado por Henrique Ihjac Kraho), um rapaz que acabou de perder o pai. Ao sonhar que ele estava numa cachoeira, ele vai até o local, chama o pai e tem uma resposta: o pai pede para que o filho faça sua festa de despedida e assim permita que o espirito dele vá para a aldeia dos mortos. Ihjac, porém, hesita, já que isso significa virar pajé da aldeia, algo que ele não quer. Então, o jovem decide ir para a cidade grande.

O filme usa o som para fazer o espectador ficar imerso na rotina da aldeia onde Ihjac vive. Com os sons sendo originados unicamente do ambiente onde o personagem principal mora, fica mais fácil entender a importância da natureza para o indígena e como eles estão ligados a ela desde sempre.

Por isso, a decisão da direção do filme de aumentar os sons da diegese (ambiente cinematográfico), é acertada, pois além de facilitar a capacidade de imersão, faz com que o público escute tudo o que passa na floresta e na aldeia, desde o vento mais fraco, até o barulho da água em fluxo forte, seja devido a chuva ou por causa da cachoeira onde Ihjac reencontra o pai.

Além disso, o som também serve de transferência entre um ato e outro, já que, quando Ihjac vai para a cidade, os sons que eram da natureza, são trocados pelos carros, pessoas, músicas e assim, vemos como era necessário para o personagem ir para a cidade, já que todo processo de crescimento depende das decisões tomadas unicamente por nós mesmo.

Sim, “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos” é um filme que, acima de tudo, é um retrato do crescimento e amadurecimento de uma pessoa ainda muito jovem para as responsabilidades que se vê obrigado a assumir e talvez pela saudade que sente do pai, não se acha preparado o suficiente para ser um pajé.

Graças a esse retrato é que alguns dos planos mais longos do filme fazem sentido, pois mostram o tempo passando e refletem a indecisão de Ihjac entre aceitar o seu destino ou ficar na cidade pelo resto de sua vida. Alguns desses planos servem como passagens elegantes entre uma cena e outra do filme, como por exemplo, o da lua no céu, que, ao vermos a escuridão profunda da noite, os diretores abaixam a câmera para percebermos que, fomos da cidade (onde o plano começa) para a aldeia, indicando a decisão de Ihjac.

Esses planos mostram como a fotografia quase toda em luz natural é importante para que o filme funcione, pois, a luz natural ajuda na imersão do público na natureza assim como os sons e permite que as passagens de cena como a citada acima sejam possíveis.

Assim, sendo uma espécie de “coming of age” indígena, “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos” mostra como a saudade pode gerar uma indecisão comum em qualquer idade e como a mesma saudade faz a gente tomar alguma decisão com base em algo que sempre quisemos para nós mesmos, apesar de demorarmos para aceitar isso.

Veja o trailer, filme distribuído pela Embaúba Filmes:

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