5/20/2019 12:00:00 AM

Crítica: Inferninho

Inferninho
Imagem: Embaúba Filmes / DIVULGAÇÃO
Acredito que a história de “Inferninho” não seja apenas a de uma mulher que tem o sonho de conhecer o mundo e amar uma pessoa, mas sim, uma história que poderia ser a de qualquer pessoa em busca de um refúgio, já que ter algo para se apoiar não é muito frequente.

Eu mesmo, não tenho um apoio de fato, já que buscar pessoas para se apoiar é colocar na vida do escolhido ou escolhida uma pressão a mais. Isso pode explicar, mesmo que de forma inconsciente, a construção da personagem de Deusimar (Yuri Yamamoto) pelos diretores Guto Parente e Pedro Diógenes, junto ao seu companheiro de roteiro Rafael Martins.

O filme conta a história dessa personagem. Deusimar administra o bar que dá título a obra. Com um sonho que não revela para ninguém, como forma de autopreservação, ela usa o bar de lar e fuga, empregando Coelho (Rafael Martins) como garçom, Luizianne (Samya de Lavor) como cantora e Caixa Preta (Tatiana Amorim).

Esses personagens não são apenas personagens, são estereótipos que os diretores tratam de quebrar a todo tempo, através dos diálogos, mas, principalmente, através da fantasia que é trabalhada durante todo o filme.

Pois, Coelho não é só um nome, é de fato um homem vestido de Coelho, Luizianne é uma cantora que é uma espécie de síntese de todas as divas pop e Caixa Preta também é uma função. Eles podem ser interpretados como projeções de uma Deusimar sonhadora e como personagens unitários.

Justamente esse tipo de interpretação que “Inferninho” permite é que faz dele um filme com o qual o público se identifica facilmente. Logo, após estabelecer uma rotina, Jarbas (Démick Lopes), chega como a figura para quebrar isso e trazer para Deusimar a esperança de realizar seu sonho por completo.

Esperança que todos nós sentimos em algum momento de nossas vidas e nos consome de forma até canibalesca, nos corrói se nos deixarmos dominar e ainda assim, faz muita falta.

Deusimar, é uma pessoa que sente falta de amar, de ter algo para chamar de seu e a atuação de Yuri Yamamoto é tão comovente, que é impossível não chorar quando vemos que ela tem a oportunidade de agarrar seu sonho, logo após uma situação em que seria compreensível a desistência.

Mas acredito que a desistência não é algo que combina com Deusimar e se pensarmos em um cenário grande e metafórico, a desistência também é algo que não combina com aqueles que, assim como eu, não tem um apoio não físico na vida. (O que pode explicar a decisão dos diretores de clarear um pouco mais os quadros no terceiro ato).

É isso que faz esse filme ser tão bom: é uma obra que mostra uma trajetória que poderia ser a de qualquer um de nós, em qualquer lugar, em qualquer bar, tomando uma cerveja e escutando uma música romântica.

“Inferninho” é uma grata e comovente surpresa no ano de 2019.

Veja o trailer:

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